Na política há um certo charme em classificar os grupos políticos com o “ismo” correspondente ao seu líder. Aqui em Mossoró temos o Rosadismo de Vingt Rosado, Sandra e Laíre. O rosalbismo de Rosalba e Carlos Augusto. E agora, mesmo que não exista, mas para ajudar no didatismo desta análise, vou citar o Allyssismo do prefeito Allyson Bezerra. O que difere os três é que o primeiro se caracterizou pelo apego ao poder, o segundo pelo apego a personalidade e o terceiro, numa mudança de visão, ao modo de gestão. Diferente do que tivemos com Rosalba e Sandra, Allyson Bezerra foge do culto personalístico e tenta atrelar seu sucesso eleitoral ao modelo de gestão, vendendo com entusiasmo as mudanças operadas no modo de administrar a Prefeitura.
COMO ERA ANTES E COMO É HOJE
Rosalba atuava para montar em torno de si uma claque de aplausos, Sandra buscava alianças para sempre compartilhar do poder e Allyson busca estabelecer as diferenças entre os modelos de gestão, apostando em eficiência e resultados. Não estou filosofando, estou constatando. Para ser justo com esta análise, é necessário colocar cada corrente política dentro do seu tempo. Rosalba vem de um tempo em que o “Adoro Mossoró” era um caminho para entrar no coração do eleitor. Allyson está administrando a cidade num tempo em que a informação é em tempo real e todo mundo acessa tudo on line. Hoje, as pessoas esperam resultados práticos da gestão nas suas vidas. Allyson percebeu esse viés. Enquanto isso, Rosalbismo e Rosadismo continuam com as marcas do passado, sem capacidade para enxergar ou com dificuldades de se adaptar aos novos tempos.
A AVENTURA DE RAFAEL MOTTA
Desde o momento que tomei conhecimento que Rafael Motta redirecionou seu projeto político, abandonando a disputa pelo terceiro mandato de deputado federal e optando pela disputa do Senado, passei a afirmar que se tratava de uma mudança oportuna e viável. É diferente de dizer que Rafael já ganhou, longe disso, estou apenas considerando que foi uma mudança bem elaborada. Rafael é jovem, bom articulador, ponderado, com atuação política consistente, um histórico sem envolvimento com casos de corrupção, parece ser confiável. Ele percebeu um certo vácuo na corrida ao Senado e foi corajoso ao escolher um novo caminho.
O PREÇO QUE ROGÉRIO MARINHO PAGA
Não é segredo para nenhum eleitor potiguar que Rogério Marinho tem certas limitações na amplitude eleitoral desejada. Ele pagou um preço com as decisões políticas que tomou. Um preço eleitoral já constatado na eleição de 2018, quando sequer conseguiu se eleger. E vem agora para a disputa atrelado ao bolsonarismo e isso também tem seu bônus e seu ônus. O ônus parece ser maior, considerando que Bolsonaro perde feio nas pesquisas eleitorais até agora divulgadas em nosso Estado. Não se pode deixar de anotar que Rogério está na disputa com apoio massivo dos prefeitos, dos principais candidatos estaduais e federais, vereadores e grandes lideranças regionais. Mas por ser esta eleição no Senado de caráter majoritário, o peso destes influenciadores de votos é bem menor do que em relação a disputa proporcional. O eleitor está mais bem informado, tem suas avaliações próprias, objetivas e subjetivas, e costuma decidir com certa autonomia na escolha dos candidatos aos cargos maiores.
AS TESOURADAS DE CARLOS EDUARDO ALVES
Penso que no terreno das limitações com o eleitor, Carlos Eduardo Alves também carrega as mesmas dificuldades. Carlos tem pouca empatia com o eleitor no Estado, um pouco mais em Natal e quase nenhuma no restante do RN. Tem um ar arrogante, está praticamente isolado politicamente, contando com apoios que vendem com entusiasmo zero sua candidatura. E o mais estranho, está numa aliança de tesouras. Tanto o PT tesoura Carlos como Carlos tesoura o PT. Ouvi certo dia uma entrevista de Carlos numa emissora de rádio e ele falou com tanta falta de cordialidade sobre a aliança com o PT que fiquei cheio de interrogações se essa aliança vai dar certo. A candidatura de Carlos carrega toda a simbologia daquilo que aos poucos vai ficando para trás na política moderna: o sobrenome, a soberba e o discurso de retrovisor.
HÁ UM VÁCUO NA CORRIDA AO SENADO
Por essas razões acredito que a readequação do projeto de Rafael Motta, decidindo pela disputa ao Senado, é inteligente. Porque ele se dispôs a ocupar um espaço vazio. Basta olhar as pesquisas. Rogério e Carlos Eduardo somam com suas intenções de votos um pouco mais que um terço do eleitorado. Está justamente aí uma imensa estrada a ser trilhada por quem tiver um pouco de coragem. E Rafael teve coragem. Isso não quer dizer que o roteiro está todo escrito e sabemos seu final. Longe disso. A campanha sequer começou a tem muito chão e muitos fatos novos adiante. Muitas circunstâncias ainda por vir. Mas política é também isso: perceber os espaços vazios e ter coragem de se aventurar.
A FORMAÇÃO DAS NOMINATAS
Gostaria de falar rapidamente hoje sobre formação de nominatas para as eleições proporcionais. Com o fim das coligações, cada partido tem que formar seu próprio time e mirar no quociente eleitoral para tentar eleger seus candidatos aos cargos em disputa. Escuto aqui e acolá que fulano ou sicrano está sem nominata e não tem mais jeito. Penso que não é bem assim. Os partidos têm até meados de julho para fechar essas nominatas. Ainda há muito tempo para as articulações.
CAMPANHA COM DINHEIRO É OUTRA COISA
E não esqueçamos um detalhe fundamental. O fundo eleitoral e o fundo partidário estão recheados como nunca. Os partidos estão com muito dinheiro para bancar as candidaturas. Não penso ser difícil para as lideranças partidárias conseguirem convencer alguns nomes que tenham um bom potencial para integrarem suas nominatas. Sempre existem bons candidatos interessados em testar seu nome nas urnas visando eleições municipais futuras. Nada que uma boa fatia do fundo eleitoral não consiga convencer. Difícil é fazer campanha sem dinheiro, mas com os fundos milionários que existem, a atratividade aumenta.