A TV Globo, tradicionalmente uma das maiores referências da televisão brasileira, parece estar dando um passo atrás em sua abordagem sobre a diversidade e a representatividade LGBTQIA+ nas tramas. Em “Garota do Momento”, novela das 18h, uma cena de beijo entre dois personagens masculinos, Guto e Vinícius, foi planejada para ser exibida em um dos próximos capítulos. No entanto, essa exibição está agora em risco, e a emissora está reconsiderando sua decisão, o que levanta questionamentos sobre a direção que a Globo está tomando em relação à sua agenda “woke”.
A reviravolta na postura da emissora
O beijo entre Guto e Vinícius, que promete ser um marco na representação LGBTQIA+ na TV aberta, agora está sob análise da direção da Globo. A cena foi cuidadosamente escrita pela autora da novela, mas ainda depende do aval da alta cúpula da emissora para ser transmitida. Apesar de a trama ter ganhado boa aceitação nas redes sociais, a falta de um grande impacto na audiência gerou inseguranças, levando a Globo a reconsiderar a exibição do beijo, algo que poderia ser interpretado como um retrocesso em suas posturas inclusivas.
A pressão por uma mudança de direção
Nos últimos anos, a Globo tem tentado equilibrar sua imagem ao tratar de temas como identidade de gênero e orientação sexual, mas, ao mesmo tempo, tem enfrentado uma crescente pressão por parte de diferentes segmentos do público. Por um lado, a emissora tem sido cobrada por maior representatividade e por uma abordagem mais assertiva da diversidade, especialmente em suas novelas. Por outro lado, a decisão de não exibir cenas de beijo entre personagens do mesmo sexo, como foi o caso em “Vai na Fé” (2023) e “Mania de Você”, revelou um receio da emissora em enfrentar reações negativas de uma parcela do público.
A escolha de cortar tramas que envolvem a comunidade LGBTQIA+ tem sido vista como uma tentativa de não alienar espectadores mais conservadores. O temor de um boicote por parte desse público e o impacto na audiência são fatores que, segundo fontes, influenciam as decisões da emissora.
O dilema da Globo: diversidade ou concessão ao conservadorismo?
A Globo, conhecida por seu histórico de inclusão e de abordar temas sociais relevantes, tem hesitado diante das tensões entre progressismo e conservadorismo. Embora a TV aberta tenha se consolidado como um espaço de debate e reflexão sobre as transformações sociais, a emissora parece estar recuando de sua agenda “woke”, visível na decisão de não mostrar relações LGBTQIA+ de forma explícita. Isso levanta a pergunta: até que ponto a Globo está disposta a sacrificar sua postura de vanguarda em prol da audiência e de um público mais conservador?
O impacto da decisão e a relação com o público
A decisão de cortar ou exibir cenas envolvendo a comunidade LGBTQIA+ não afeta apenas as tramas, mas também tem um impacto direto nas discussões culturais e sociais que acontecem no Brasil. A representatividade nas novelas pode influenciar a percepção do público sobre a diversidade e a inclusão, e, ao omitir ou censurar essas narrativas, a Globo pode estar se distanciando de uma parcela significativa da audiência, que exige maior espaço para minorias.
A reação do público será um fator decisivo nas próximas semanas, e é possível que essa escolha da Globo tenha repercussões duradouras na forma como a emissora se posiciona em relação a temas polêmicos. Ao abandonar a agenda “woke” e reconsiderar a exibição de um beijo gay, a Globo envia uma mensagem complexa: a necessidade de agradar a todos os lados, mas sem abrir mão de sua responsabilidade social na construção de uma sociedade mais inclusiva.