Com a recente alta do dólar e as incertezas sobre a inflação e a economia global, o Banco Central (BC), agora sob o comando de Gabriel Galipolo, indicado pelo presidente Lula, elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, atingindo 13,25% ao ano. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) foi unânime e já havia sido antecipada na reunião de dezembro.
Em comunicado oficial, o Copom apontou que a instabilidade externa, principalmente nos Estados Unidos, gera dúvidas sobre a postura futura do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano. No cenário interno, a economia brasileira continua aquecida, com a inflação e seus núcleos acima da meta. O comitê também destacou que as incertezas sobre os gastos públicos estão afetando os preços dos ativos.
“O comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, destacou o comunicado.
Essa foi a quarta alta consecutiva da Selic, consolidando um ciclo de contração na política monetária. A taxa retorna ao maior patamar desde setembro de 2023. O BC também indicou que, na próxima reunião, em março, a Selic será novamente elevada em 1 ponto percentual. No entanto, sobre a reunião de maio, a autoridade monetária preferiu não antecipar qualquer decisão, afirmando que a evolução da inflação será determinante.
Inflação preocupa
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para conter a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em dezembro, o IPCA registrou alta de 0,52%, pressionado principalmente pelo aumento nos preços da carne e algumas frutas, segundo o IBGE. Com esse resultado, a inflação acumulada em 2024 atingiu 4,83%, superando o teto da meta estipulada.
A partir de 2024, a meta de inflação passou a ser apurada de forma contínua, considerando a variação acumulada nos últimos 12 meses. O Banco Central projeta que o IPCA atinja 5,2% em 2025, acima do teto da meta, enquanto a expectativa do mercado é ainda mais pessimista: 5,5% para o mesmo período.
Crédito mais caro e crescimento menor
A alta da Selic impacta diretamente o crédito, encarecendo empréstimos e financiamentos, o que reduz o consumo e a produção, freando o crescimento econômico. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetou um crescimento de 2,1% do PIB para 2025, enquanto o mercado financeiro estima uma expansão ligeiramente menor, de 2,06%.
Com a Selic mais alta, o BC busca segurar a demanda e conter a inflação, mas, ao mesmo tempo, dificulta o crescimento do país. Esse dilema econômico se intensifica em um cenário de instabilidade fiscal e pressão inflacionária.
Governo perde seu “bode expiatório”
Com a nomeação de Galipolo para a presidência do BC, o governo Lula perde a possibilidade de culpar o presidente do Banco Central pelas altas taxas de juros e seus efeitos na economia. Antes, o governo atribuía a Roberto Campos Neto a responsabilidade por uma política monetária restritiva que prejudicava o crescimento econômico. Agora, com um aliado no comando do BC, o governo precisará encontrar novas justificativas para os desafios econômicos do país.