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A solidão da madrugada

Imagem: Ilustração

A solidão da madrugada é uma presença silenciosa, envolvente. Quando o mundo parece adormecer e as ruas se tornam desertas, há uma sensação de que o tempo para, levando com ele todos os sons, todos os movimentos. A cidade, que durante o dia é cheia de vida e barulho, agora se entrega ao silêncio, e dentro de casa, a sensação é a mesma: as paredes fecham-se sobre nós e a quietude preenche cada espaço.

O relógio no canto da parede avança com uma precisão quase cruel. Cada tique parece mais forte na madrugada, como se marcasse o compasso de uma solidão que não conseguimos escapar. O calor do cobertor, o ruído distante de um ventilador ou o farfalhar das folhas nas árvores parecem ser os únicos resquícios de algo vivo, mas tudo isso se dissolve diante da imensidão do vazio. Até o corpo parece entrar em sintonia com esse silêncio; a respiração se torna mais lenta, o batimento cardíaco mais profundo, como se a própria madrugada pedisse para que deixássemos o ritmo acelerado do dia de lado.

É uma solidão que vai além da ausência de companhia. Ela nos força a olhar para dentro, a confrontar aquilo que deixamos de lado durante o dia. Os pensamentos, antes abafados pela correria, agora surgem com uma clareza que nos desarma. Lembranças de outros tempos, desejos não realizados, medos antigos… tudo vem à tona, e somos forçados a escutá-los. O silêncio, que parece apenas nos rodear, penetra também na mente, como uma voz interior que não podemos silenciar. O peso do que ainda não resolvemos se torna mais tangível. Na escuridão, a falta de respostas se amplifica.

É curioso como, no meio dessa solidão, o tempo parece tanto nosso amigo quanto nosso inimigo. Por um lado, ele se arrasta, deixando o silêncio ainda mais denso. Por outro, ele nos dá o tempo necessário para refletir, para ver as coisas sob uma luz diferente, mais clara, mais verdadeira. Quando estamos imersos nessa solidão, o corpo parado e a mente em movimento, o tempo é mais flexível. Ele não mais obedece à rigidez do dia, se espreguiça como se também fosse um ser humano. O relógio, que antes parecia um metódico torturador, agora se torna uma presença quase cúmplice dessa reflexão interna.

A madrugada, com sua quietude, obriga a um encontro consigo mesmo. E, por mais desconfortável que seja, é nesse momento que somos desafiados a compreender nossa própria existência. Não há mais distrações, não há mais o que fazer além de encarar a si mesmo, sem máscaras, sem escapatórias. Quando o mundo se apaga ao nosso redor, somos deixados apenas com nossa própria companhia, e isso, muitas vezes, é o que mais nos assusta.

À medida que a noite avança, o silêncio vai se tornando mais confortável, até que, de alguma forma, ele começa a nos abraçar. Não mais como uma presença ameaçadora, mas como algo que, de repente, faz parte de nós. E, talvez, seja nessa aceitação do silêncio que a solidão da madrugada se transforma. De um desafio, ela passa a ser uma oportunidade para o autoconhecimento, para o encontro com aquilo que carregamos dentro, e que, de outra forma, poderia nunca vir à tona. A mente, finalmente livre das pressões externas, encontra clareza, por mais breve que seja.

A solidão da madrugada, então, não é uma punição, mas um convite. Um convite a nos conhecermos melhor, a entender nossas fraquezas e forças, e, talvez, a nos perdoarmos por aquilo que não conseguimos mudar. E, quando o primeiro raio de luz da manhã atravessa a janela, a solidão se dissolve, mas as lições que ela deixou permanecem, como um eco silencioso dentro de nós.

Crônicas da Vida Real – Um espaço para reflexões sobre situações que, reais ou fictícias, podem ser vividas por qualquer um de nós. Gostou dessa história? Compartilhe com a hashtag #CronicasDaVidaReal e marque quem precisa ler!

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Postado por Eryx Moraes

Eryx Moraes é um jornalista potiguar de destaque, nascido em 25 de março de 1985 em Felipe Guerra, RN. Com uma carreira brilhante e apaixonado pela comunicação, ele se tornou influente na região, conquistando o respeito dos mossoroenses e sendo agraciado com a cidadania mossoroense. Sua experiência inclui passagens por rádios e jornais impressos, abordando com competência temas diversos, desde política e economia até outros assuntos.

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