Depois de meses criticando a condução do Banco Central sob o comando de Roberto Campos Neto, em especial pela manutenção de juros elevados, o governo Lula agora parece ter se rendido à mesma política monetária que tanto combateu. O reconhecimento veio do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que afirmou nesta sexta-feira (7.fev.2025) que a elevação da taxa de juros pode ser um instrumento necessário para conter a inflação no país.
Em entrevista à rádio Cidade FM 99.7, de Caruaru (PE), Haddad destacou que a política monetária precisa ser conduzida com sabedoria para evitar desequilíbrios econômicos. “Se você está tendo um repique inflacionário, precisa corrigir. O remédio para isso é, muitas vezes, aumentar a taxa de juros para inibir a alta de preços. Agora, tudo isso tem que ser feito da maneira correta, na dose certa”, declarou.
A declaração vem logo após a decisão do Banco Central, em janeiro, de elevar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, passando de 12,25% para 13,25% ao ano. A medida, tomada por unanimidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom), foi uma resposta à crescente pressão inflacionária.
A mudança de tom do governo é evidente. No passado, Lula e seus aliados criticaram duramente a política de juros altos adotada pelo Banco Central, alegando que a Selic elevada inibia o crescimento e prejudicava investimentos. No entanto, agora, o próprio ministro da Fazenda admite que, em alguns momentos, o aumento dos juros se faz necessário para controlar o superaquecimento da economia e conter a inflação. “Se a economia estiver muito aquecida, os preços vão aumentar”, afirmou Haddad.
Além de justificar a elevação dos juros, Haddad defendeu as medidas fiscais adotadas pelo governo para equilibrar as contas públicas. Segundo ele, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem trabalhado para corrigir deficiências herdadas de governos anteriores. “Ano passado, nós já corrigimos as distorções do déficit público. O déficit acumulado nos dois governos anteriores foi de quase R$ 2 trilhões”, disse.
O ministro também mencionou o impacto da valorização do dólar devido à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, indicando que o governo brasileiro está atento à necessidade de trazer a moeda para “um patamar mais adequado”, o que deve influenciar nos preços de combustíveis e alimentos nas próximas semanas.
No fim, Haddad tentou demonstrar otimismo ao dizer que a recuperação econômica exige tempo e medidas consistentes. “Você não reconstrói um país em dois anos, mas, comparando com o que era a vida há dois anos, acho que o avanço é muito significativo”, afirmou. Contudo, a declaração que mais chamou atenção foi o reconhecimento tácito de que, apesar de toda a retórica contra juros altos, o governo acabou adotando a mesma estratégia que antes combatia.