O anúncio de Gusttavo Lima sobre sua possível candidatura à Presidência da República em 2026 expôs as tensões internas na direita brasileira, especialmente entre Jair Bolsonaro e Ronaldo Caiado, que enxergam a pretensão do cantor como uma “traição”. Essa reação reflete não apenas a resistência a novas lideranças, mas também a tentativa de manter uma hegemonia política em um campo ideológico que se apresenta como plural, mas que na prática sofre com disputas de poder e personalismo.
O histórico de Gusttavo Lima no cenário político é marcado por seu apoio aberto ao ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, quando se posicionou contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, Lima tem utilizado sua influência como figura pública para reforçar pautas conservadoras, demonstrando interesse em participar mais ativamente da política. Recentemente, declarou apoio ao coach Pablo Marçal para a prefeitura de São Paulo, sinalizando seu engajamento com aliados de direita. Essa trajetória revela que o cantor não está apenas flertando com a política, mas trabalhando ativamente para se consolidar como um possível representante do setor.
Ao invés de acolher Gusttavo Lima como uma nova liderança que poderia diversificar o campo político conservador, Bolsonaro e Caiado reagiram com hostilidade. Bolsonaro, que sequer possui direitos políticos, parece mais interessado em manter sua influência do que em permitir que outros ocupem espaços de liderança na direita. A candidatura de Gusttavo Lima deveria ser vista como uma oportunidade para fortalecer o movimento conservador, mas foi tratada como uma ameaça ao protagonismo de figuras já estabelecidas.
Ronaldo Caiado, por sua vez, mantém uma postura ambígua. Embora veja com “normalidade” a possibilidade de candidatura de Lima, segundo sua assessoria, os bastidores indicam que a notícia pegou o governador de surpresa, especialmente após conversas prévias que apontavam para uma possível candidatura ao Senado, e não à Presidência. Essa duplicidade reflete a dificuldade da direita em lidar com figuras fora do circuito tradicional, como Gusttavo Lima, cujo apelo popular pode rivalizar com o de políticos profissionais.
O caso de Gusttavo Lima ilustra um dilema crucial para a direita brasileira: enquanto se apresenta como um movimento em expansão, permanece presa a lideranças centralizadoras e resistentes à renovação. Se quiser se preparar para as eleições de 2026, esse campo político precisará superar o personalismo e abrir espaço para novos protagonistas. Caso contrário, corre o risco de se tornar refém das próprias contradições, enfraquecendo sua capacidade de reconquistar o poder.