O Brasil registrou, em 2024, sua pior colocação na série histórica do Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional, ocupando o 107º lugar entre 180 países avaliados. Com uma nota de 34 pontos, a mais baixa já atribuída ao país, o Brasil caiu duas posições e perdeu três pontos em relação ao levantamento de 2023. O resultado também representa uma queda de nove pontos e 38 colocações em comparação às melhores notas já alcançadas pelo país, registradas em 2012 e 2014.
De acordo com Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional-Brasil, a presença crescente do crime organizado nas instituições estatais é um dos principais sinais do aprofundamento da corrupção no país. “Houve um grande impulso anticorrupção na última década, com a Operação Lava-Jato, mas o país falhou em corrigir seus erros e em promover reformas estruturais. Como resultado, a corrupção contra-atacou e hoje estamos em uma situação pior do que antes da Lava-Jato”, afirma.

Comparativo internacional e situação nas Américas
No cenário global, o Brasil encontra-se em posição semelhante à de países como Argélia, Malauí, Nepal e Tailândia. O ranking é liderado por Dinamarca (90 pontos), Finlândia (88), Cingapura (84) e Nova Zelândia (83), enquanto Sudão do Sul (8 pontos), Somália (9) e Venezuela (10) ocupam as últimas posições.
Na América Latina, o Brasil também está abaixo da média continental, que é de 42 pontos, e da média global, de 43. No G20, o país ficou em 16º lugar, empatado com a Turquia e à frente apenas de México e Rússia.
Desafios e impactos na agenda climática
A Transparência Internacional também divulgou o relatório “Retrospectiva Brasil 2024”, que analisa os avanços e retrocessos no combate à corrupção. Entre os pontos negativos, o documento destaca o silêncio do presidente Lula sobre a pauta anticorrupção, a expansão descontrolada das emendas orçamentárias e a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia. Como avanços, são mencionadas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que aumentam a transparência nas emendas parlamentares e investigações contra redes de corrupção envolvendo magistrados.
A corrupção também impacta a agenda climática, afetando a implementação de políticas ambientais e desviando recursos essenciais. Segundo Renato Morgado, gerente de programas da ONG, desvios no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), fraudes em créditos de carbono e esquemas de grilagem de terras demonstram como a corrupção compromete os esforços para combater as mudanças climáticas. “O Brasil tem a oportunidade de demonstrar compromisso com essa pauta na COP do clima, que será realizada em Belém, mas isso só ocorrerá se houver avanço na transparência e integridade das políticas ambientais”, conclui a Transparência Internacional.