A economia brasileira se destacou mundialmente nos primeiros 75 anos do século XX, com uma média de crescimento anual de 7,36%. Durante esse período, o país experimentou uma economia dinâmica, com baixa intervenção estatal, favorecendo a criação de riqueza. Contudo, a transição entre modelos econômicos e as decisões tomadas pelos governantes ao longo das décadas transformaram esse panorama, levando a uma trajetória de altos e baixos que até hoje impacta o país.
Início do século XX: modernização e exportações
No início do século XX, sob o governo de Rodrigues Alves (1902-1906), o Brasil iniciou um processo de modernização urbana e melhorias sanitárias essenciais para o crescimento econômico. Durante a Primeira República, presidentes como Afonso Pena (1906-1909) e Nilo Peçanha (1909-1910) mantiveram o foco em uma economia voltada para a exportação de produtos primários, como o café, que foi responsável pela maior parte das exportações do país. O governo de Epitácio Pessoa (1919-1922) teve como marco a reconstrução econômica pós-Primeira Guerra Mundial, mas também enfrentou desafios de crise externa e instabilidade interna.
Década de 1930: a ascensão de Vargas e a industrialização
A década de 1930 trouxe mudanças estruturais profundas sob a liderança de Getúlio Vargas, que assumiu o poder em 1930 e deu início à industrialização acelerada do Brasil. Vargas implementou políticas intervencionistas, mas soube manter o dinamismo econômico, aproveitando a urbanização e o crescimento industrial para modernizar o país. Esse período, que se estendeu até o fim do Estado Novo em 1945, consolidou o Brasil como uma economia emergente, embora com elevados níveis de desigualdade social e concentração de poder no governo federal.
Pós-guerra: desafios do crescimento e intervenção estatal
Nos anos seguintes à Segunda Guerra, os governos de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) e a volta de Vargas (1951-1954) enfrentaram o desafio de equilibrar o crescimento econômico com o aumento da intervenção estatal. Vargas, em seu segundo mandato, foi responsável pela criação da Petrobras, um marco no setor energético, mas também sinalizou o fortalecimento das empresas estatais, muitas vezes em detrimento de um setor privado mais competitivo.
Os anos de Juscelino Kubitschek (1956-1961) trouxeram otimismo, com o plano de metas e a construção de Brasília. O crescimento econômico foi impulsionado por investimentos em infraestrutura e industrialização. No entanto, o rápido avanço trouxe desequilíbrios fiscais e um aumento da dívida externa, que seria uma das marcas da década seguinte.
Anos de ditadura: crescimento com custo social e crise econômica
Com João Goulart (1961-1964), o Brasil enfrentou uma grande instabilidade política e econômica. A tentativa de implementar reformas estruturais, como a reforma agrária e a reforma urbana, gerou resistências, levando ao golpe militar de 1964. Durante os governos militares, o país experimentou um crescimento econômico acelerado, conhecido como “milagre brasileiro”, mas com um alto custo social, incluindo repressão política e forte intervenção estatal. Empresas estatais foram criadas em larga escala, e políticas de controle de preços e subsídios foram adotadas, mas a dívida externa e a inflação descontrolada acabaram gerando uma crise econômica nos anos 1980.
Década de 1980: a crise do modelo econômico
A década de 1980 foi marcada por uma grave crise econômica, caracterizada por hiperinflação, baixo crescimento e uma grande insatisfação social. Sob o governo de José Sarney (1985-1990), o modelo econômico intervencionista entrou em colapso. Os planos econômicos, como o Cruzado, fracassaram em controlar a inflação, o que resultou em uma crescente frustração popular. Esse período de crise, que ficou conhecido como “década perdida”, viu o Brasil tentar, sem sucesso, superar seus graves problemas econômicos por meio de reformas que não conseguiram dar conta da magnitude das distorções estruturais do país.
O novo impulso: privatizações e reformas de Fernando Collor
A eleição de Fernando Collor de Mello (1990-1992) representou uma tentativa de ruptura com o passado e a implementação de uma abertura econômica e privatizações. No entanto, a crise política e os escândalos de corrupção levaram ao impeachment de Collor, sem que o Brasil conseguisse alcançar um crescimento sustentável. O governo de Itamar Franco (1992-1994) deu início a uma nova fase com o Plano Real, liderado por Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu controlar a inflação e estabilizar a economia. No entanto, as crises econômicas globais e internas continuaram a dificultar o crescimento do país.
O período de expansão com Lula e as dificuldades pós-2008
Com Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), o Brasil experimentou um período de expansão econômica, impulsionado pelo boom das commodities e programas sociais como o Bolsa Família, que reduziram a pobreza e ampliaram o consumo das classes mais baixas. Contudo, esse crescimento foi sustentado por estímulos estatais e um aumento da dependência das exportações de commodities, o que enfraqueceu a diversificação da economia. O governo de Dilma Rousseff (2011-2016) aprofundou as políticas intervencionistas com a “Nova Matriz Econômica”, o que levou a uma recessão profunda entre 2015 e 2016, marcada pela queda do PIB, aumento do desemprego e inflação descontrolada. A crise econômica, somada a escândalos de corrupção, culminou no impeachment de Dilma e na ascensão de Michel Temer (2016-2018).
Jair Bolsonaro: reformas e desafios fiscais
Durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), o Brasil experimentou alguns avanços, como a aprovação da reforma da Previdência. No entanto, o país enfrentou desafios severos, como a pandemia de COVID-19, que agravou os problemas fiscais e gerou uma inflação alta, somada a um baixo crescimento econômico. Além disso, as tensões políticas e a polarização dificultaram o avanço de outras reformas essenciais para a recuperação da economia.
O retorno de Lula e a polarização política
Em 2023, Luiz Inácio Lula da Silva retornou ao poder em seu terceiro mandato. Enfrentando um cenário global menos favorável, com desaceleração econômica e desafios climáticos, o governo adotou medidas voltadas à reindustrialização e ampliação de investimentos públicos. Contudo, o ambiente político polarizado e as dificuldades em retomar o crescimento sustentável demonstraram que os desafios estruturais do país persistem.
O atual quadro político e social do Brasil reflete uma acentuada polarização, que se intensificou desde as eleições de 2018. De um lado, o lulismo, respaldado por sua base histórica, busca manter a coesão em um governo que, apesar das promessas de progresso, enfrenta desafios significativos devido à escassez de recursos e à desconfiança do mercado. Do outro, a oposição representada pelo bolsonarismo segue dividida. Jair Bolsonaro, inelegível pela Justiça Eleitoral, se recusa a apoiar qualquer nome fora de sua própria família, dificultando a reorganização da oposição.
O judiciário e a polarização política
Além disso, o Judiciário tem sido alvo de intensos debates e críticas. Muitos acusam o tribunal de adotar posturas autoritárias em suas decisões, com o temor de que isso represente uma ameaça direta à democracia. Essas intervenções podem agravar a instabilidade política, uma vez que as decisões judiciais têm implicações profundas para a política e a economia do país. A recente judicialização da política e o ativismo judicial, muitas vezes, ultrapassam a função de garantir o cumprimento da lei, interferindo em questões de poder executivo e legislativo. A sociedade brasileira se vê dividida não apenas entre o lulismo e o bolsonarismo, mas também em relação ao papel do Judiciário, que, em algumas ocasiões, parece ser um árbitro político.
A política externa: alinhamentos controversos
A política externa do governo Lula também tem gerado controvérsias, especialmente pelo alinhamento com regimes autoritários, o que pode prejudicar a imagem do Brasil no cenário internacional. Além disso, a falta de pragmatismo nas relações comerciais tem dificultado a atração de investimentos estrangeiros, o que, por sua vez, impede a recuperação econômica e a diversificação da economia brasileira. O país precisa de uma política externa mais pragmática, que priorize o fortalecimento da economia e promova a reindustrialização, sem se afastar das suas obrigações democráticas.
Desafios estruturais e possíveis caminhos para o futuro
Ao longo de mais de um século, o Brasil oscilou entre períodos de crescimento robusto e crises severas. A trajetória do país reflete um ciclo de excessiva intervenção estatal, somado a desafios econômicos globais e locais. Para romper com a “armadilha do baixo crescimento”, o Brasil precisa de reformas consistentes, que envolvam a redução da burocracia, a desestatização de setores estratégicos e a promoção de um ambiente mais favorável à inovação e ao empreendedorismo. A recuperação econômica exigirá, também, um equilíbrio entre liberdade econômica e inclusão social, além de uma política fiscal rigorosa e uma reforma tributária que reduza a desigualdade social.
Neste ano de 2025, o Brasil ainda busca superar os desafios estruturais que o impedem de se tornar uma economia de alto crescimento. A estabilidade política será um fator determinante para o país reverter sua trajetória de baixo desempenho econômico e retomar seu lugar entre as economias mais promissoras do mundo.