Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam crescimento de 28% nas candidaturas de policiais militares e civis nestas eleições em comparação com 2018, para cargos eletivos federais e estaduais. Segundo levantamento da Gazeta do Povo, um total de 1.012 policiais apresentaram registro no TSE neste ano; quatro anos atrás foram registradas 789 candidaturas.
Ao abrir o leque da segurança pública e contabilizar também registros de membros das forças armadas, militares reformados e bombeiros militares, há um total de 1.436 candidaturas – aumento de 19,7% frente a 2018.
Dessas categorias, a que somou o maior aumento foi a de policiais militares, que saltou de 603 candidaturas, no último pleito, para 823 neste ano, em acréscimo de 36,5%. A única carreira que obteve queda de registros foi a das forças armadas, com 34% a menos – 91 em 2018 para 60 no pleito atual.
O que motivou o aumento de candidaturas da segurança pública
As eleições de 2018 tiveram um forte apelo à segurança pública, já que ocorreram um ano após o Brasil ter batido o recorde de homicídios em um mesmo ano, com 65,6 mil ocorrências segundo o Atlas da Violência. Nesse cenário, o eleitorado brasileiro apostou em aumentar o número de parlamentares oriundos das forças de segurança para os diferentes cargos: deputado estadual e federal, governador, senador e presidente da República. Naquele ano foram eleitos, ao todo, 79 representantes dessas carreiras (o equivalente a 10% do total de candidatos da segurança pública) para os cargos eletivos do pleito. A título de comparação, em 2014 foram eleitos apenas 18 profissionais da segurança pública para esses cargos.
Segundo o pesquisador da área de segurança pública Olavo Mendonça, a melhora de índices de segurança dentro da atual legislatura é um dos fatores que podem ter impulsionado novas candidaturas de policiais e militares. Ele aponta também que diversos problemas não avançaram nos últimos anos mesmo com o ingresso recorde de membros das forças de segurança na vida pública a partir de 2019, principalmente por dificuldade de avanço em tramitações de projetos de lei nas casas legislativas.
“Alguns temas, como o combate à impunidade, a exemplo da revisão dos ‘saidões’ do sistema prisional e das audiências de custódia, não foram para frente. Então acredito que esses candidatos estejam enxergando nesse movimento uma chance de tentar mudar essa legislação e essa realidade”, afirma Mendonça.
Apesar de muitos dos profissionais dessas áreas promoverem suas candidaturas sob a bandeira da segurança pública, em especial do endurecimento das leis penais e do fortalecimento do combate ao crime e à corrupção, também é comum o forte apelo à defesa da categoria em suas legislaturas, como a busca por melhores salários e condições, assim como ocorre em outras categorias profissionais.
Para Mendonça, em alguns casos as questões corporativas tomam proporções muito grandes e outros temas relevantes acabam ficando em segundo plano. “Depois que esses profissionais são eleitos e passam a desenvolver seu mandato, as questões corporativas começam a pesar mais, mas muitos deles conseguem manter o foco no que propuseram durante a campanha”.
Policiais influencers
Um fenômeno observado principalmente a partir das eleições de 2018 e que pode ter impactado no aumento de registros de agentes de segurança no TSE nestas eleições são as candidaturas de policiais influenciadores, que fazem sucesso ao publicar vídeos com trechos do dia a dia de seus trabalhos nas ruas e aproveitam essa repercussão para disputar cargos eletivos.
Casos emblemáticos, como o do delegado da Polícia Civil Carlos Alberto da Cunha, conhecido na internet como Delegado Da Cunha, ilustram um caminho que deve ser seguido por numerosos policiais nestas eleições. Em novembro de 2019, Da Cunha começou a filmar operações policiais feitas por sua equipe e publicá-las na internet. Atualmente ele possui nove milhões de seguidores nas redes sociais e neste ano tentará uma vaga na Câmara dos Deputados.
Outro exemplo é o ex-policial militar Gustavo Silveira da Costa, conhecido como Soldado Da Costa. Ele atuava no 23º Batalhão da Polícia Militar do Paraná (PMPR), em Curitiba, e mantinha um canal chamado Perdeu Piá, atualmente com meio milhão de inscritos. Após desentendimentos na corporação em decorrência da exposição na internet, o soldado pediu baixa da PM em setembro de 2021 e também se lançou como candidato a deputado estadual pelo Paraná.
Gazeta do Povo