Alison Souza, de 29 anos, sofreu um acidente de trânsito no dia 8 de dezembro. Depois de um tempo no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel foi encaminhado para um hospital privado da capital. Desde então, aguarda por três cirurgias ortopédicas, que ainda estão sem previsão de acontecer. Já Dona Francisca, de 82, aguarda há oito dias também no maior hospital público do estado por uma cirurgia vascular, que ainda não tem data.
Os dois vivem situação semelhante a de outras pessoas que aguardam uma cirurgia eletiva neste momento na rede pública no Rio Grande Norte. Os procedimentos estão suspensos por conta da greve dos médicos anestesiologistas (também chamados de anestesistas), que começou no dia 15 de dezembro do ano passado por falta de pagamento. Apenas as cirurgias de emergência estão sendo realizadas.
Os profissionais cooperados cobram o pagamento de parcelas em atraso do governo do Estado e da prefeitura do Natal. Os atrasos, segundo a cooperativa, chegam a seis meses.
Enquanto a situação não se resolve, as famílias e os pacientes ficam apreensivos sem previsão para os procedimentos.
“Ela tem 82 anos, está muito incomodada, sentido dores no braço que tem que fazer uma cirurgia. Os ortopedistas disseram que não podem fazer porque não receberam salário. E no corredor está cheio, não tem mais vaga. Está precisando urgentemente resolver essa situação”, disse Maria Neuma, filha de Francisca.
“Quebrei meu fêmur, o tornozelo e o pé e até agora não fiz nenhuma cirurgia. Dia 8 faz um mês que estou internado, não tem nenhuma previsão de cirurgia. Estou passando muita dificuldade, não tenho nenhum familiar próximo, acompanhante. Estou pela misericórdia de Deus”, lamentou Alison, que é pernambucano e está morando em Natal, onde procura emprego.
Dívida
Segundo a Cooperativa dos Anestesiologistas do RN (Coopanest-RN), as parcelas do governo estadual referentes aos meses de julho e agosto, pouco mais de R$ 2 milhões, estão atrasadas. A prefeitura do Natal fez dois depósitos no valor de R$ 1,4 mi referentes a dois meses do contrato, mas deixando ainda valores em aberto dos procedimentos de média e alta complexidade, segundo a cooperativa.
“A gente está falando de pelo menos mais de 1 mil procedimentos por semana que estão deixando de ser feitos por causa dessa redução de atendimento. Atualmente nós temos 287 profissionais anestesiologistas que não estão prestando atendimento na integralidade, só na urgência e emergência. Estão com uma capacidade de execução dos procedimentos eletivos no aguardo dos pagamentos atrasados tanto da Prefeitura quanto do Estado”, disse o presidente da cooperativa, Vinícius Luz.
A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) informou que o valor está fechado para o trâmite financeiro, porque as contas do governo ficam fechadas no início do ano. A previsão da pasta é que o dinheiro seja entregue à cooperativa até o dia 15 de janeiro.
A dívida somada, de acordo com a cooperativa, chega a mais de R$ 3 milhões, tendo os setores mais críticos na ortopedia e cardiologia.
O pagamento aos médicos é feito pelas esferas federal, estadual e municipal no contrato, mas segundo a cooperativa, apenas os valores do governo federal foram repassados.
“O contrato com a prefeitura municipal de Natal é composto por três partes: uma federal, uma estadual e uma municipal. A parte estadual, que é a maior dese pagamento, está atrasada desde julho do ano passado e o município não repassou a parte federal da verba que recebe referente a dois meses, setembro e outubro do ano passado. Isso nunca aconteceu antes”.
Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS) não se posicionou sobre o tema.
g1-RN