A corrida eleitoral para a eleição presidencial no Brasil entrou na sua fase decisiva no dia 16 de agosto último, com o início da propaganda eleitoral. No dia 2 de outubro, uma grande parcela dos mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar estarão diante das urnas para escolher o presidente que irá governar o país no período de 2023-2026. Caso ocorra um eventual segundo turno, essa escolha será decidida pelos eleitores no dia 30 de outubro de 2022. E a economia terá importante papel na definição do resultado das eleições.
Nessa eleição, que conta com candidatos à presidente de vários partidos políticos, o país terá pela primeira vez uma disputa na qual estarão presentes um presidente em exercício e um ex-presidente. Trata-se de um embate entre dois candidatos com visões distintas na forma de governar: o presidente Bolsonaro se encontra num espectro político à direita, e o ex-presidente Lula à esquerda. Considerando que ambos ocuparam o mesmo cargo, é previsível que os confrontos irão se concentrar nas comparações de desempenho econômico como redução da taxa de desemprego, queda na inflação e crescimento do produto interno bruto (PIB); estabilidade política; fortalecimento das instituições; democracia e corrupção.
É previsível que os confrontos entre os presidenciáveis irão se concentrar nas comparações de desempenho econômico como redução da taxa de desemprego, queda na inflação e crescimento do produto interno bruto (PIB).
Nos âmbitos externo e interno, o debate estará centrado na crise provocada pela pandemia de Covid-19, que continua impactando, de forma desigual, as economias da maioria dos países; na elevação da inflação no mundo; desaceleração do crescimento da China e repercussões negativas da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, e nos riscos de uma recessão global. Nesse cenário, o Brasil aparece na contramão do mundo, visto que a taxa de crescimento do PIB estimada do país no corrente ano foi aumentada de 0,8% para 1,7%, de acordo com a estimativa do FMI. O mais recente relatório Focus, por sua vez, projeta um crescimento do PIB de 2,0% e a inflação de 6,9% neste ano. Registre-se que, a taxa de desemprego no Brasil recuou para 9,3% no segundo trimestre de 2022 (IBGE). É o menor patamar para o período desde 2015.
Constata-se, com base nos dados do IBGE no período 1998-2018, que governos que tiveram índices de inflação e desemprego abaixo de dois dígitos conseguiram se reeleger ou fazer seu sucessor. Esse foi o caso da reeleição de Fernando HenriqueCardoso (FHC) em 1998, que encerrou o seu primeiro mandato com o IPCA em 1,6%, taxa de desemprego em 7,8% e um crescimento ínfimo do PIB de 0,10%. Apesar do baixo desempenho da economia, FHC capitalizou eleitoralmente a seu favor o fato de ter controlado a inflação, em parte devido ao seu Plano Real. No final do seu segundo mandato, em dezembro de 2002, a inflação alcançou 12,5% e o desemprego 11,7%. Nas eleições daquele ano, o seu candidato, José Serra, foi derrotado.
Constata-se que, o cenário de desfavorável na economia no final do segundo governo FHC foi decisivo para a vitória de Lula nas eleições de 2002. Lula, que foi reeleito em 2006, concluiu o seu primeiro mandato com o IPCA em 3,1% e o desemprego de 8,4%. No final do seu segundo governo, em 2010, o IPCA alcançou 5,9% e o desemprego de 6,7%, o que viabilizou a eleição de sua candidata, Dilma Rousseff.
Em 2014, Dilma terminou o seu governo com a inflação de 6,4% e a taxa de desemprego de 4,3%. Apesar de ter sido reeleita, não conseguiu concluir o mandato. No biênio 2015-2016, o Brasil viveu a pior recessão econômica de sua história: o PIB recuou -3,8% em 2015, e -3,6% em 2016. Isso refletiu no aumento da instabilidade política no país, o que contribuiu para o seu afastamento da Presidência da República por meio de um impeachment no final de agosto de 2016. Em 2018, o presidente Michel Temer, mesmo tendo a inflação sob controle (3,7%), apresentava uma taxa de desemprego elevado (11,7%), agravado por um ambiente político bastante instável. Seu candidato, Meirelles, perdeu. Nesse cenário de turbulência política e econômica foi eleito o atual presidente, Jair Bolsonaro, nas eleições de 2018.
O tema corrupção também não pode ser desconsiderado nessa eleição presidencial. Os adversários do ex-presidente Lula sabem que reavivar na memória dos eleitores os custos dos escândalos revelados nos julgamentos do Mensalão e da Lava Jato tenderá a contribuir para a elevação do percentual de sua rejeição, em particular, junto aos eleitores indecisos.
Constata-se que o crescimento econômico e a estabilidade política estão interligados em vários níveis. As projeções sobre o desempenho da economia brasileira em 2022 indica que a inflação e o desemprego ficarão abaixo dos dois dígitos; e a esses indicadores positivos se pode agregar os efeitos benéficos dos programas de transferências de renda para as populações mais carentes. É inegável que essas variáveis são relevantes na corrida eleitoral, pois contribuem para a geração de uma sensação de bem-estar na população, que fica mais otimista com o futuro do país e sua situação financeira. Pode-se afirmar, assim, apoiado na estreita relação que existe entre economia, eleições e política, que o desempenho da economia será fator decisivo para a escolha do presidente da República nas eleições de 2 de outubro próximo.
José Matias-Pereira, economista e advogado, é doutor em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madrid (UCM-Espanha), e pós-doutor em Administração pela Universidade de São Paulo (FEA/USP). É professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília.
Gazeta do Povo