Isolado e com seus direitos políticos cassados, o ex-prefeito de Felipe Guerra-RN, Haroldo Ferreira de Morais (PSB), procura um discurso, um grupo e um palanque para chamar de “seu” e poder voltar à cena política no município. Ferreira, que administrou Felipe Guerra por oito anos, de 1º de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020, chegou ao poder através da antiga oposição, derrotando a tradicional família Costa, que dominava a política local havia quase quatro décadas.
A vitória de Haroldo Ferreira foi possível graças a uma reviravolta inesperada. Na época, ele conseguiu convencer o ex-prefeito Hulgo Costa, que já administrou Felipe Guerra por três vezes, a negar apoio à sua própria cunhada, a empresária Iolanda Costa, esposa de seu irmão e braço direito Ailton Costa. Ao romper com o então prefeito Braz Costa, seu primo, e com a situação, Hulgo cometeu um erro político que marcaria negativamente sua trajetória: agindo certamente por emoção, indicou o jovem Paulo Guilherme Gurgel Cardoso como vice de Haroldo na chapa oposicionista que saiu vitoriosa das eleições de 2012 com apenas 191 votos de maioria.
Durante seus dois mandatos, Haroldo administrou Felipe Guerra com “mãos de ferro”. Teve à sua disposição os maiores orçamentos anuais da história do município. Há época, os royalties do petróleo chegaram a alcançar até R$ 16 milhões em um único ano e, ao final de seu segundo mandato, a soma do montante recebido apenas em royalties ultrapassava os R$ 50 milhões. No entanto, sua gestão terminou marcada pela ineficiência que gerou dívidas milionárias e obras inacabadas para o município. Outros fatores que marcaram negativamente a gestão Haroldo em Felipe Guerra, foram o radicalismo, a perseguição a adversários e o menosprezo que o então líder constantemente demonstrava em relação a correligionários históricos do grupo político que o acolheu, nutriu e fez realizar-se seu sonho de ser prefeito daquele município.
Como consequência, já nas eleições de 2020, quando ainda era prefeito, Haroldo Ferreira viu-se desgastado e enfraquecido, o que praticamente o obrigou a apoiar seu então vice-prefeito, o professor Salomão Gomes de Oliveira para sua sucessão. À época, Ferreira nem tentou esconder sua insatisfação diante do que a vontade popular e o grupo governista lhe reservavam na política felipense a partir dali. Enquanto o então gestor avaliava nomes da sua confiança, os quais não lhe empolgavam, para quem sabe poder se livrar do compromisso de apoiar Salomão, o então vice-prefeito liderava disparado todas as pesquisas eleitorais com vistas à sucessão municipal. Sem muito o que fazer, Ferreira acabou indicando o então vereador Ubiracy Pascoal para vice de Salomão que teve uma vitória grandiosa nas urnas com mais de 500 votos de maioria.
Iniciada a nova gestão, em 2021, mesmo o prefeito Salomão tendo partilhado quase que 50% dos cargos do seu governo, inclusive 4 das 10 secretarias que formam a estrutura administrativa, o ex-prefeito Haroldo não encontrou mais clima para permanecer alinhado ao grupo político governista. Sem o poder, Ferreira passava a colher os frutos amargos de uma infeliz e má semeadura que fizera ao longo de 8 anos.
Desejando voltar ao comando de Felipe Guerra, Haroldo tentou uma aproximação com as lideranças e o eleitorado da oposição. No entanto, seu movimento foi mal recebido, resultando em uma verdadeira debandada de eleitores, além dos vereadores Max Morais, Genilson Nogueira, Márcio da Santana, o ex-prefeito Braz Costa e de outras lideranças até então de oposição as quais repudiaram sua investida oportunista.
Atualmente, enquanto nos aproximamos das próximas eleições municipais, os fatos se impõem mostrando que Haroldo Ferreira vive o pior momento de sua trajetória política, até aqui vitoriosa, uma vez que o ex-gestor encontra-se isolado e ladeado por apenas dois dos 9 vereadores do município, Luiza Pereira e Hudemberg Rocha, ambos do seu partido o PSB.
E para piorar ainda mais a situação, recentemente, Haroldo se tornou inelegível com base na Lei da Ficha Limpa quando por 7 votos a 2 a Câmara de Vereadores de Felipe Guerra acatou o parecer prévio do Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte, que desaprovou suas contas devido a um aumento remuneratório de agentes políticos municipais durante a pandemia de Covid-19, em conflito com as vedações da Lei Complementar Federal n° 173/2020.
Enquanto busca reverter na Justiça a decisão desfavorável do parlamento municipal, Ferreira analisa suas poucas possibilidades no cenário político de Felipe Guerra. E de acordo com informações, caso o ex-gestor recupere seus direitos políticos na Justiça, seu “plano A” seria tentar convencer o ex-prefeito Hulgo Costa a repetir o erro de 2012 e indicar um candidato a vice-prefeito em sua chapa. Inclusive, a nova aliança poderia reeditar a chapa Haroldo Ferreira e Paulo Guilherme, que saiu vitoriosa em 2012. Caso isso não seja possível, o “plano B” de Ferreira seria lançar seu filho, o acadêmico de medicina Haroldo Segundo, como candidato a prefeito, mantendo a expectativa de que Hulgo indique o vice.
Enquanto tudo não passa de desejos e/ou especulações, os bastidores indicam que a sobrevivência política de Haroldo depende mais de utopias do que de conjecturas nas quais se possa apostar seguramente. Mesmo que Ferreira recupere seus direitos políticos, é improvável que Hulgo Costa se permita ser usado novamente por ele. Outra grande utopia é Ferreira realmente ter coragem de enfrentar o atual prefeito Salomão, algo que ele não teve em 2020, quando ainda tinha sob seu comando a máquina pública e os cargos comissionados da prefeitura.
Por fim, independentemente da situação política do ex-prefeito Haroldo quando for chegado o prazo final para a homologação das candidaturas com vistas ao pleito eleitoral de 2024, o que se percebe em Felipe Guerra é o amplo favoritismo de Salomão, que caminha para uma reeleição tranquila com ou sem adversário.