Por Tulio Lemos / Opinião
A governadora Fátima Bezerra fez um cálculo equivocado na correlação de forças para o seu palanque de 2022 e o erro pode ser fatal, comprometendo sua tentativa de reeleição.
Sem adversário forte, Fátima esnobou aliados importantes e atraiu seu antigo concorrente para a chapa majoritária, como se Carlos Eduardo pudesse suprir o que ela poderá perder em termos de apoios políticos. Erro crasso. A matemática eleitoral não bate.
Ter Carlos Eduardo ao seu lado e ter Ezequiel Ferreira e Garibaldi Filho como adversários, poderá custar a reeleição da irmã de Tetê.
Ezequiel Ferreira, com seu PSDB e Walter Alves e Garibaldi Filho com o MDB, representam cerca de 80 prefeitos espalhados em todas as regiões e de eleitorado também variado. Além de 18 deputados estaduais, dezenas de vereadores e demais lideranças políticas. É forte. Muito forte.
Fátima está subestimando o poderio político da aliança Ezequiel/Walter. A soberba, que alimenta o ‘já ganhou’ aponta para um comparativo com eleições anteriores, em que Fernando Bezerra ou Henrique Alves já tiveram palanques com cerca de 100 prefeitos e perderam a eleição.
São situações absolutamente diferentes e circunstâncias diversas.
Em 2022, a maior parte dos prefeitos está bem avaliada e com dinheiro em caixa, gozando de prestígio eleitoral e com força para pedir votos para seus candidatos. Isso faz diferença na prática. Principalmente nos pequenos e médios municípios do RN.
O quadro hoje é de reprovação administrativa para a gestão Fátima Bezerra. A governadora é honesta, continua com a vida simples e sua gestão é marcada pelo diálogo e sem mácula moral; mas tem dificuldades de nominar obras macro e mais ainda de apontar realizações individualizadas nos municípios. Bem diferente de Wilma, Garibaldi e Agripino, que saíam citando as obras em cada cidade.
Fátima não pode fazer isso. Não há obras do governo com suas digitais no interior e seu discurso é pobre para convencer a população que merece um novo mandato.
Em paralelo à ausência de obras da governadora, os prefeitos, que já estão chateados com o tratamento recebido do governo, têm inúmeros motivos para votar contra e trabalhar para Fátima não ser reeleita.
O salto alto da governadora produziu uma miopia política e entorpeceu sua capacidade de avaliação.
Fátima subestimou a candidatura de Ezequiel. Achou que era blefe com cheiro de chantagem.
Ezequiel Ferreira e Walter Alves fizeram um pacto de união de forças. A posição tomada será em conjunto. Isso fortalece muito os dois políticos e seus grupos. A união dos dois, mais o apoio das demais lideranças da oposição, forma um palanque gigante contra a governadora, que ficará somente com o minúsculo PC do B e o pequenino PDT, provocando um isolamento político perigoso. Além disso, ainda há a possibilidade concreta de Carlos Eduardo ficar inelegível, deixando a chapa majoritária ainda mais fragilizada.
Somente a participação efetiva de Ezequiel e Walter no palanque de Fátima, fariam com que os prefeitos mudassem o tom contra a governadora. Mas parece que o governo não enxerga dessa forma.
Nem olha o passado.
Em 2018, Fátima ganhou nas pequenas e médias cidades. Na época, ela era novidade e o adversário não empolgava e nem motivou os prefeitos e lideranças a engrossar seu palanque. O quadro hoje é outro.
Nem Fátima e nem o núcleo de articulação do governo consegue enxergar que perder dois grandes partidos poderá sepultar o sonho da reeleição da primeira governadora do RN de origem popular.
Fátima terceirizou a articulação de sua reeleição e o resultado disso é um afastamento de forças expressivas. Afinal, por mais que tenha a confiança da governadora, o chefe da Casa Civil, Raimundo Alves, não tem representatividade para decidir o futuro de Fátima com aliados que sequer merecem uma palavra da própria governadora.
É verdade que Ezequiel ainda não decidiu se será ou não candidato. Mas sofre pressão de todo o seu grupo político para efetivar sua candidatura e buscar a vitória. Walter, Garibaldi e o MDB seguirão Ezequiel na posição que o presidente da Assembleia tomar.
A oposição está em ritmo acelerado de articulações e conversas. A governadora vai de marcha lenta e se nega a assumir o comando de seu próprio futuro.
Ezequiel e Walter vão formar chapa contra a governadora? É possível. É provável. Mas ainda não está decidido de forma irreversível.
A governadora ainda tem uma pequena chance de abortar o nascimento de uma chapa que pode lhe derrotar. Mas a soberba e o salto alto não lhe permitem ter lucidez da gravidade que o momento exige.
Os próximos dias serão decisivos para a governadora e para a oposição. Enquanto não há definição pública a respeito de candidaturas, tudo poderá acontecer nos dois lados.
O cenário atual é de desconforto para a governadora. Mas, como política é como nuvem, quando a gente olhar novamente, tudo poderá ser visto de forma diferente.