Neto Queiroz
A governadora Fátima Bezerra (PT) é uma sortuda. Ninguém conseguiu até o presente momento lhe fazer oposição eficaz. Os que fizeram alguns ensaios foram desmobilizados ao longo do caminho. Outros tentam a partir de um calendário eleitoral segurar a bandeira de oposição, mas o discurso não tem solidez. O fato é que Fátima passou três anos de gestão sem oposição aparente e não será agora no ano eleitoral que os discursos de ocasião vão fazer eco repentinamente no ouvido do eleitor. O que temos visto é que a governadora nunca esteve nas cordas do ringue, nunca recebeu um soco comprometedor, no máximo alguns solavancos, mas nada que pudesse levá-la a nocaute.
CRÍTICAS FEITAS SÃO RASAS
Fátima não teve até o momento necessidade nenhuma de fazer uma defesa mais contundente da sua gestão, necessidade de bater de frente por conta de algum pecado capital. O máximo que tivemos nesta seara foram as críticas pontuais, rasas, sem deixar o governo sequer em situação desconfortável. Quem tem notícia da última vez que o governo de Fátima precisou publicar alguma nota oficial se explicando de alguma coisa? Salvo as contendas no próprio campo da esquerda com algum sindicato dos servidores estaduais, no campo político, Fátima não foi fustigada em momento algum.
REDES SOCIAIS DE ROGÉRIO ALIVIAM SOBRE FÁTIMA
Um exemplo maior disso podemos ver com a pré-campanha do ex-ministro Rogério Marinho, pré-candidato ao Senado. Ele integra a linha de frente do Bolsonarismo, na qualidade de ex-ministro, incorpora um antagonismo natural com o PT e aqui no Estado deveria ser o crítico mais contundente da governadora. Basta dar uma olhada nas redes sociais de Rogério Marinho atualmente que praticamente não se encontra quase nada de crítica a gestão. Faz tempo que Rogério passa ao largo sobre os temas do governo da petista. E há um motivo para isso. Não interesse em nada a Rogério Marinho abrir essa briga de peito aberto com o PT e com Fátima e se chocar com o eleitor.
ROGÉRIO NÃO SE ELEGE SÓ COM OS BOLSONARISTAS
O senador sabe que o ex-presidente Lula lidera com folga nas pesquisas as intenções de votos no RN e sabe ainda que Bolsonaro tem um nicho de intenções de voto que não é suficiente, por si só, para elegê-lo senador. Ele precisa dos votos do outro lado. Muitas lideranças políticas que estão com Marinho, estão também com a governadora. Na esperança de colher parte dos votos desse eleitorado simpático a Lula, Rogério toma todo cuidado com suas críticas ao PT, para não gerar material nas redes sociais a ser utilizado por quem tem interesse em impedir que esse voto migre para um bolsonarista. Hoje Rogério tem na sua campanha uma coordenação específica que trabalha esse voto lulista.
FÁTIMA COOPTOU VOZES NA OPOSIÇÃO
Voltando a oposição que é feita a governadora, tivemos durante algum momento desta fase da pré-campanha, a possibilidade do palanque e do discurso de oposição ser encampado por Carlos Eduardo Alves ou por Ezequiel Ferreira, citados como prováveis pré-candidatos ao Governo. Fátima tratou de cooptar os dois. Tanto Carlos, como Ezequiel, hoje reverberam elogios a gestão da professora petista. E mesmo que os dois tivessem ido para um palanque de oposição por força de alguma aliança circunstancial, ainda assim teriam um discurso oposicionista meio capenga, considerando que Ezequiel foi aliado de Fátima por três e anos e Carlos foi omisso pelo mesmo período.
POUCA CRÍTICA TAMBÉM NA MÍDIA
O fato é que salvo algumas exceções na mídia, alguns blogueiros ou profissionais de rádio que fazem um discurso de confronto com a governadora, na classe política pouco se pautou esse assunto. E a mídia é pautada pelos fatos. Sem nenhuma voz atacando o governo, os que estão na mídia e desejavam bater de frente, ficaram sem os fatos geradores da notícia, restando um vazio de discurso. Enquanto isso Fátima navega num governo de comodidade, sem ser fustigada, tocando o barco da reeleição.
MESMO ASSIM FÁTIMA NÃO SURFA NAS PESQUISAS
O que é de se estranhar, é que mesmo não tendo oposição consistente que ataque seu governo, Fátima ainda tenha mesmo assim um teto baixo de intenções de votos, conforme as pesquisas. Hoje, ela tem cerca de um terço do eleitorado dizendo que deseja votar nela e outros dois terços que não citam seu nome na hora que são entrevistados e os nomes dos pré-candidatos são citados. A análise que se faz é que há um certo vácuo de gestão, existe um grau de insatisfação do eleitor que resiste no voto para um novo mandato. O problema da oposição é que não sabe dizer onde está o problema e nem sabe explorá-lo.
A OPOSIÇÃO DE FÁBIO DANTAS
Atualmente quem está fazendo um esforço de busca de um discurso de oposição que tenha eco na população é o pré-candidato do Solidariedade ao Governo, Fábio Dantas. Mas, ainda está fora de tom. Fábio vem de um histórico de aproximação com as esquerdas, foi visto em alguns momentos como aliado petista, por isso mesmo, seu discurso ainda não tem identidade. O grande risco de um discurso encomendado de última hora é justamente esse, que o eleitor perceba que é um discurso apenas da circunstância. Fábio peca em duas situações: pela oposição que parece superficial e pela incapacidade de saber aonde está a ferida. O marketing vai fazer seu esforço para que o antagonismo ao palanque petista se torne identificável, mas por enquanto, está apenas na intenção.
HÁ TEMAS PARA SE FAZER CRÍTICAS SÉRIAS
E existem problemas sérios na gestão de Fátima Bezerra. Problemas sentidos diariamente pela população. E nem precisa nem ir muito longe. A situação das estradas no RN é um deles. Não há hoje no nosso Estado nenhuma estrada em boas condições. Ninguém sabe dizer hoje qual a grande obra que o Estado está tocando, estamos paralisados, mas todos sabem que o Estado está arrecadando como nunca arrecadou. Escolas sucateadas aos montes espalhadas pelos municípios. São diversas as vulnerabilidades da gestão, mas a oposição com uma identidade meramente eleitoral ainda não adquiriu paternidade reconhecida para mexer nisso.
