Ano de 1985. O da minha chegada a Mossoró, para onde vim, oriundo da zona rural de Felipe Guerra, minha querida terra natal. E aqui continuei estudos, a busca por trabalho. Passei a usufruir de uma vida completamente avessa à do campo, lá na localidade de Mulungu.
E, de vez residindo na cidade grande, envolvo-me em convívio com outras pessoas, muitas delas que nunca tinha visto ou imaginava conhecer. Outros costumes, ideias, comportamentos. Tudo aquilo surgindo ao meu redor, e eu a assimilar, meio arredio. Aprendi muito e, confesso, ainda tenho muito a aprender.
É com esse sentimento que, a partir desta data, passo a escrever dominicalmente para o portal MOSSORÓ NEWS, artigos nos quais irei disseminando lembranças minhas ao longo do que vivi, ao longo desses 38 anos que participei ativamente como parte das famílias mossoroenses. São memórias, muitas, coisas que jamais vou querer esquecer.
Pois bem, para começar, a lembrança dos fins de tarde na quadra da Escola Municipal Professor Manoel Assis, ali na Rua João Leite, esquina com a Nísia Floresta, no aconchegante bairro Doze Anos. Encontro marcado com toda a garotada para jogar bola. Disputas acirradas, discussões, mas nada de se chegar às vias de fato, pois o respeito era mútuo.
E, de tão conhecido que ficou aquele encontro nos fins de tarde, lá foram chegando para participar dos momentos esportivos, pessoas das mais conhecidas na cidade. Citar aqui o popular velho ‘Santo Preto’, que jogava bola e muito bem. Tinha lá os seus vícios, mas isso não era da conta de ninguém. Era respeitado por todos e, da parte dele, sabia ser recíproco.
Lembrar de Miguilinho, Rivaldo, Sanderson. Todos passaram por lá, depois se tornaram jogadores profissionais e defenderam vários clubes esportivos mossoroenses. E tinha o “time dos jornaleiros”. Desse eu fazia parte e me engajei tão logo cheguei a esta cidade. E outros: Amarildo, hoje funcionário do Banco do Brasil; professor Almir Bezerra, atualmente residindo na cidade de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia. São tantos que não tenho nem como citar aqui.
O interessante é que, diferente dos dias atuais, todos jogavam descalços na “quadra de cimento queimado”, como costumávamos chamar. As traves eram demarcadas com pedras e o gol só era válido, se a bola entrasse rolando no chão. Geralmente, ela passava com alguns centímetros de altura, e então começava a confusão. Não existia a figura do juiz.
E nessa discussão, o pior que poderia acontecer era os integrantes do time perdedor, se sentindo injustiçados, tentavam evitar outras partidas, da seguinte forma: eles quebravam garrafas de vidros, colocavam os cacos no meio da quadra e iam embora para suas casas. E ficava o trabalho de varrer todo o local e não deixar um farelo sequer de vidro, a fim de que não viesse a ferir alguém. Afinal, todos jogavam descalços. E, no restante daquele dia, a diversão era dada por encerrada.
Por hoje, encerro o rol de lembranças das coisas da adolescência que vivi no querido na região do Boa Vista/Doze Anos. De moradores simples, de coração grande e acolhedor. Por lá cresci, casei, construí família e, vez por outra, me acompanho de filhos e netos, num passeio de boas recordações por aquelas ruas, a maioria delas exibindo a mesma tranquilidade de quase 30 anos atrás.
Até a próxima!