Mais um instituto de pesquisa confirma a tendência de alta na reprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desta vez, a pesquisa realizada pela Quaest, divulgada nesta segunda-feira (27), revela que 49% dos brasileiros desaprovam o trabalho de Lula, enquanto 47% o aprovam, marcando a primeira vez que a desaprovação supera a aprovação desde o início do mandato, segundo os levantamentos da Quaest realizados desde janeiro de 2023. Outros 4% dos entrevistados não souberam ou não responderam.
Das 133 MPs editadas por Lula nesse período, apenas 20 foram aprovadas com modificações, representando cerca de um terço do desempenho de Jair Bolsonaro (PL), que até então detinha os piores números: 58 MPs aprovadas de um total de 156. Além disso, 76 MPs perderam validade sem sequer serem votadas, sinalizando o travamento da pauta no Legislativo.
A derrubada de vetos também registrou um recorde negativo. Lula teve 32 vetos rejeitados total ou parcialmente, número semelhante ao observado no mesmo período do mandato de Bolsonaro (31). Esses dados mostram a fragilidade do governo em lidar com um Congresso majoritariamente controlado pela centro-direita e direita.
A dificuldade de articulação no Legislativo tem como pano de fundo dois fatores estruturais. O primeiro é a disputa entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que impactou diretamente a tramitação das MPs. O segundo é a diminuta representação da esquerda, que controla apenas um quarto das 594 cadeiras do Congresso.
Mudança de paradigma no Legislativo
Desde 2015, as relações entre Executivo e Legislativo têm sido impactadas pelo aumento das emendas parlamentares e pela obrigatoriedade de sua execução. O volume de recursos controlados diretamente pelos congressistas atingiu R$ 50 bilhões em 2024, enfraquecendo o poder de barganha dos governos federais.
Antes desse cenário, o chamado “toma lá, dá cá” permitia que o Executivo negociasse apoio em troca da liberação de emendas. Contudo, o fortalecimento do Congresso, somado à escalada da centro-direita nas urnas, desafiou a hegemonia histórica do Executivo sobre o Legislativo.
A vitória de Eduardo Cunha (MDB-RJ) sobre Arlindo Chinaglia (PT-SP) na presidência da Câmara, em 2015, é considerada um marco dessa nova realidade. Desde então, presidentes como Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e agora Lula têm enfrentado dificuldades em formar maiorias estáveis, uma dinâmica que se tornou a regra no Congresso Nacional.
Projeções para o futuro
Com uma base fragilizada e em meio ao crescente protagonismo dos parlamentares, a reta final do mandato de Lula tende a ser desafiadora. Para reverter o cenário, será necessário intensificar o diálogo com lideranças do Congresso e investir em articulações políticas mais robustas. Caso contrário, o Executivo pode encerrar o mandato com marcas ainda mais negativas em sua relação com o Legislativo.