A jovem Letícia Vicente da Silva, de 17 anos e moradora de Mossoró, na Região Oeste do Rio Grande do Norte, está entre os 60 estudantes do Brasil que alcançaram a nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023. Letícia, inspirada pela história de vida desafiadora de sua mãe, uma empregada doméstica, escolheu o tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Letícia, filha de Auzeni Vicente, de 64 anos, revela que ao se deparar com o tema da redação, imediatamente lembrou da trajetória difícil e longa de sua mãe. “Minha mãe tem uma história de vida muito longa, muito difícil. Assim que eu vi o tema, eu lembrei dessa história, é uma história de doméstica, é difícil mesmo, e o tema fazia jus a todo esse processo”, conta a estudante.
Mesmo sendo a primeira vez que Letícia fez o Enem oficialmente – nos anos anteriores participou como “treineira” – ela se destacou ao abordar o tema de forma sensível e pessoal. A jovem, que sempre teve boas notas na escola, não esperava alcançar a nota máxima na redação este ano. Ela revela que manteve uma rotina equilibrada de estudos durante a semana, aproveitando o tempo livre no fim de semana para lazer, especialmente a dança, sua paixão.
Letícia agora almeja aplicar sua nota no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para cursar medicina na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) ou na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).
Potiguar filho de agricultores, que viajava 100 km por dia para estudar, também obteve nota máxima
Já na pacata cidade de Ipueira, com pouco mais de 2 mil habitantes no interior do Rio Grande do Norte, João Pedro Marinho de Oliveira, aos 20 anos, escreve uma história de superação que culminou na conquista da nota mil na redação do Enem 2023. Filho de agricultores, João Pedro enfrentou desafios significativos para alcançar esse feito.
O maior obstáculo foi o deslocamento diário de cerca de 2 horas, entre ida e volta, para cursar o ensino médio no Instituto Federal do RN (IFRN) em Caicó. “Eu tinha que andar no ônibus e viajava 100 quilômetros por dia para estudar. Ter que fazer esse deslocamento e estudar em casa quando chegar, conviver com o cansaço diário, que era algo inevitável, era uma tarefa muito difícil de lidar”, compartilha João Pedro.
Apesar das dificuldades, João Pedro se inspirou na própria mãe, uma agricultora de 49 anos, para abordar o tema da redação: “O enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Mesmo lidando com inseguranças e ansiedade, ele manteve um ritmo de estudos de aproximadamente seis horas por dia, sonhando em seguir carreira como desembargador.
O Enem, além de ser a porta de entrada para o ensino superior, representa para João Pedro a vitória sobre adversidades e a possibilidade de alcançar seus sonhos.