Não foi por raiva, nem por tristeza. Apenas por curiosidade.
Acordei em uma segunda-feira qualquer e tomei a decisão: ia sumir. Não fisicamente, claro. Apenas das redes, dos grupos de WhatsApp, do feed infinito que engolia minhas horas sem que eu percebesse. Apaguei aplicativos, desativei perfis e silenciei todas as notificações.
No primeiro dia, estranhei o vazio. O celular parecia mais leve, como se tivesse perdido peso sem as mensagens que nunca paravam de chegar. Mas minha mente, acostumada à enxurrada de informações, parecia inquieta. Peguei o celular por impulso dezenas de vezes, só para encarar a tela sem nada. Nenhuma ligação. Nenhum “tá tudo bem?”.
No segundo dia, comecei a notar as coisas que antes passavam despercebidas. O cheiro do café parecia mais forte, a textura das folhas na calçada parecia diferente, os passarinhos cantavam alto – ou será que sempre cantaram, e eu apenas não ouvia? Ainda assim, o silêncio das mensagens incomodava. Quem repararia na minha ausência?
No terceiro dia, a curiosidade falou mais alto. Entrei no WhatsApp só para conferir. Apenas uma notificação do banco. Nenhuma mensagem dos “amigos” de sempre. Me peguei pensando: se eu tivesse desaparecido de verdade, quem sentiria minha falta primeiro?
No quarto dia, fui ao mercado e, sem perceber, puxei o celular para tirar uma foto de uma prateleira cheia de produtos coloridos. Mas para postar para quem? Para quem era essa necessidade de mostrar cada detalhe do que eu fazia? Me dei conta de que, por muito tempo, vivi para alimentar um público invisível, sem saber direito por quê.
No quinto dia, desisti de esperar por notificações. Peguei um livro, fui à praça, sentei sozinho. Observei as pessoas ao redor – muitas, de cabeça baixa, presas às telas. Pela primeira vez em muito tempo, não senti falta de nada.
No sexto dia, finalmente, uma ligação. Minha mãe. “Filho, você tá sumido.” Sorri. Alguém notou.
No sétimo dia, percebi que talvez o problema não fosse a falta de mensagens, mas sim a quantidade de conexões superficiais. E que sumir, no fundo, não foi um teste para os outros, mas para mim mesmo.
Porque, às vezes, a gente precisa desaparecer um pouco para voltar a se encontrar.
Crônicas da Vida Real – Um espaço para histórias que poderiam ser suas, minhas, de qualquer um de nós. Porque a vida real também é feita de grandes ficções.
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