Bolsonarista, conservadora e crítica do movimento LGBT+. Assim se identifica Suellen Rayanne, paulista de 24 anos e digital influencer, que se apresenta na internet como “trans de direita”. Nas redes sociais, Suellen publica uma série de vídeos expondo seus pensamentos sobre vários assuntos.
Um dos temas que comenta é o uso de banheiros femininos por pessoas trans. Conforme Suellen, essa possibilidade abre margem para homens mal-intencionados se aproveitarem de uma mulher biológica, seja ela adulta ou menor de idade. “Isso sem contar os olhares estranhos que o LGBT recebe, gerando um constrangimento desnecessário para ele e as mulheres que frequentam aquele local”, observou. “A sociedade não é obrigada a aceitar esse tipo de coisa. Uma alternativa é a criação de um terceiro banheiro.”
A respeito da política, Suellen diz gostar do ex-presidente Jair Bolsonaro, porque o “governo dele foi maravilhoso para o Brasil”. A trans de direita acrescenta à sua lista de parlamentares favoritos o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). “Uma de minhas referências”, disse. Entre outras fontes de informação, Suellen consome conteúdo de cursos on-line de influenciadores conservadores.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
É comum associar pessoas LGBT+ à esquerda. Por que você se identifica como “trans de direita”?
Comecei a me identificar como alguém de direita durante a campanha do presidente Bolsonaro, em 2018. Naquela época, fui me aprofundando nas propostas dele e faziam sentido para mim. A partir de então, soube que era alguém de direita. Nesse período, percebi ainda como as pautas do movimento LGBT+ são contraditórias. Eles dizem lutar contra o ódio, mas perseguem e atacam gays que pensam diferente. Isso não ocorre na direita, que batalha pela liberdade e pela Justiça.
Qual a sua avaliação sobre o movimento LGBT+?
Preconceituoso e confuso. Eles me odeiam. Eu e minha família sofremos ameaças de morte, por parte deles. Em 2019, chegaram a invadir a minha casa. É um grupo totalmente LGBTfóbico. Nunca tive nenhuma ligação com eles, em virtude desses posicionamentos extremistas. Penso que deveria haver novos movimentos que representem, de verdade, as pessoas LGBTs e que tenham relação com as minhas ideias. Luto por uma sociedade melhor, e não por direitos exclusivos para mim. Não devemos privilegiar uma minoria, em detrimento da maioria.
Alguma pessoa de direita já te atacou?
Nunca. Sempre participei de manifestações de direita e as pessoas me receberam bem. Há, inclusive, parlamentares que me respeitam, além de pessoas evangélicas.
A direita precisa dialogar mais com pessoas LGBT+?
Creio que, agora, vai ser bem difícil, em razão da polarização política no país. Espero, contudo, que futuramente os membros da comunidade LGBT+, cujo posicionamento é majoritariamente de esquerda, reconheçam que estão sendo usados como massa de manobra. Não deveria continuar do lado errado da história.
Por que você decidiu ser trans?
Não me sinto bem com o meu corpo, mas não nego a minha biologia. Sou uma mulher trans. A minha luta diária é para mostrar às pessoas que há divergências no meio onde estou. Nem todos são de esquerda ou defendem pautas extremistas. Apoio direitos para a sociedade, e não para grupos específicos.
O que você pensa sobre trans em esportes e banheiros femininos? E a respeito da ideologia de gênero nas escolas?
A mulher lutou muito para conquistar o seu espaço. É injusto uma pessoa trans, do século 21, invadir esse território. Trata-se de um desrespeito e uma violação séria. Defendo a criação de uma categoria específica para pessoas trans. Da mesma forma, esse pensamento se aplica aos banheiros. Não é saudável um homem biológico entrar em um banheiro para mulheres, tampouco usar o toalete masculino. Precisamos do terceiro banheiro. O problema, com certeza, vai acabar. A respeito das escolas, avalio ser importante o aprendizado de português e matemática. É absurdo querer ensinar sexualidade para os pequenos. Os colégios não são locais para doutrinação. A família é quem tem de cuidar da educação dos seus filhos.
Qual a sua avaliação sobre a linguagem neutra?
Excludente e sem necessidade. Os jovens, hoje, têm dificuldades para falar o português, que dirá aprender um dialeto estranho como esse. A edução precisa se preocupar em ensiná-los a aprender o próprio idioma e, depois, uma língua estrangeira, como inglês, usado no mundo todo.
Você acredita em múltiplos gêneros?
Apenas no masculino e feminino. Tem gente passando dos limites. A cabeça das pessoas virou uma bagunça com essa história de múltiplos gêneros.
Como foi o governo Bolsonaro para você e o que esperar da gestão Lula?
Não tenho do que reclamar. Votei nele com prazer. O governo só não foi melhor por causa da oposição ferrenha, da pandemia de coronavírus e do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. O presidente cumpriu com seu objetivo. Nunca o achei um homofóbico ou transfóbico, como dizem. Sobre Lula, as declarações estapafúrdias e os dados econômicos falam por si só.
Revista Oeste