Há um relógio invisível que todos carregamos. Ele não marca horas, minutos ou segundos. Ele mede algo mais intangível: a sensação de que o tempo está sempre escapando, como areia fina entre os dedos. Já tentou segurar a areia? Quanto mais apertamos, mais ela escorre. Assim é o tempo.
Lembro-me de quando era criança, e as tardes pareciam infinitas. Um dia durava uma eternidade, e o ano seguinte estava sempre distante, como um horizonte inalcançável. Hoje, os dias se confundem. Segunda-feira vira sexta-feira num piscar de olhos, e o ano novo, que mal começou, já parece querer terminar. Onde foi parar aquele tempo que, outrora, parecia tão generoso?
O tempo não muda. Mudamos nós. Crescemos, acumulamos responsabilidades, preocupações, desejos. E, no meio disso tudo, perdemos a capacidade de simplesmente estar. Vivemos correndo atrás de algo que, muitas vezes, nem sabemos nomear. E, enquanto corremos, o tempo ri de nós, silencioso e implacável.
Tentamos domar o tempo. Organizamos agendas, fazemos listas, planejamos cada minuto. Mas o tempo não se deixa domesticar. Ele é um rio que flui, indiferente aos nossos esforços. Podemos até construir barragens, mas, cedo ou tarde, a água encontra um caminho. E o que resta são os momentos que não soubemos apreciar.
Penso nas pessoas que partiram. No avô que já não está à mesa de jantar, na amiga que se mudou para longe, no amor que se desfez. O tempo levou embora suas presenças, mas deixou marcas. São cicatrizes que doem, mas também ensinam. Elas me lembram que o tempo não é só perda. Ele é também memória, aprendizado, transformação.
Poderia citar tantos momentos em que o tempo se desfez em um segundo: aquele abraço que não se deu, o olhar perdido que ficou guardado, a palavra não dita que já não tem mais o mesmo valor. Mas não seria necessário. Porque o tempo é feito de milhares de pequenas ações que, ao se somarem, fazem nossa vida.
E então, me pergunto: como viver em paz com esse rio que não para de correr? Talvez a resposta esteja em parar de tentar segurá-lo. Em vez disso, deixá-lo nos carregar, suavemente, como uma canoa em águas calmas. Apreciar a paisagem, sentir o vento no rosto, mergulhar nas águas quando possível. O tempo não é nosso inimigo. Ele é simplesmente o que é: um presente que nos é dado, um após o outro, até que não haja mais presentes para abrir.
E você? Já parou para pensar em como está tratando o tempo que escorre entre seus dedos?
Crônicas da Vida Real – Um espaço para reflexões sobre situações que, reais ou fictícias, podem ser vividas por qualquer um de nós. Gostou dessa história? Compartilhe com a hashtag #CronicasDaVidaReal e marque quem precisa ler!