Dados da Serasa Experian revelam que 2.273 empresas entraram com pedidos de recuperação judicial no Brasil em 2024, o maior número desde o início da série histórica, em 2005. O volume representa um aumento de 61,8% em relação a 2023 e de 173% comparado a 2022. O recorde ocorre em um ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve crescer 3,5%, segundo estimativas do Banco Central, levantando questionamentos sobre a contradição entre a expansão econômica e a fragilidade financeira das empresas.
A recuperação judicial é um mecanismo que permite às empresas renegociar dívidas com credores, obtendo descontos que podem chegar a 90% do valor total, além de prazos estendidos e correções menores. Já a falência é decretada quando as companhias não têm mais condições de honrar seus compromissos. O aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial em 2024 sugere que, apesar do crescimento econômico, muitas empresas ainda enfrentam dificuldades para se manterem solventes.
Setores mais impactados
O setor de serviços foi o mais afetado, concentrando 40,8% dos pedidos de recuperação judicial. Em seguida, aparecem o comércio (25,3%), o setor primário (18,6%) e a indústria (15,2%). Para especialistas, o desempenho do setor de serviços reflete a sensibilidade ao consumo interno e a dificuldade de muitas empresas em se recuperarem dos impactos da pandemia. Já o comércio sofre com a alta inadimplência dos consumidores e a concorrência acirrada, especialmente com o avanço do e-commerce.
Inadimplência em alta
Dados da Serasa Experian mostram que, em dezembro de 2023, 6,9 milhões de empresas estavam inadimplentes, o equivalente a 31,6% do total de negócios no país. Embora o número tenha apresentado uma leve queda em relação aos meses anteriores, ainda representa um aumento de 300 mil empresas inadimplentes em comparação com o mesmo período de 2022. A alta inadimplência e os custos financeiros elevados, como as taxas de juros, são apontados como alguns dos principais fatores que pressionam as empresas, especialmente as de menor porte.
Efeitos tardios da pandemia
Durante os anos mais críticos da Covid-19, o número de pedidos de recuperação judicial caiu, já que muitas empresas renegociaram ou pausaram suas dívidas. No entanto, com o fim desses benefícios, as companhias agora precisam enfrentar a realidade de suas obrigações financeiras acumuladas. Além disso, a pandemia acelerou transformações digitais e mudanças nos hábitos de consumo, deixando para trás empresas que não conseguiram se adaptar às novas demandas do mercado.
Crescimento do PIB não é sinônimo de recuperação para todos
Apesar da expectativa de crescimento de 3,5% do PIB em 2024, a economia brasileira parece seguir um caminho desigual. Enquanto alguns setores, como commodities e exportações, podem estar impulsionando o crescimento, outros, como serviços e comércio, ainda lutam para se recuperar. Especialistas alertam que o aumento das recuperações judiciais é um sinal de que a recuperação econômica não está sendo sentida de forma homogênea.
Perspectivas e desafios
Para reverter o cenário, analistas sugerem a adoção de políticas de apoio às empresas, como linhas de crédito acessíveis e programas de reestruturação de dívidas. Além disso, será fundamental que as empresas se adaptem às novas realidades do mercado, investindo em inovação e eficiência operacional. Enquanto isso, o recorde de recuperações judiciais em 2024 serve como um alerta para os desafios que ainda precisam ser superados na trajetória de recuperação econômica do país.
Conclusão
O aumento recorde de pedidos de recuperação judicial em 2024 revela uma faceta menos visível do crescimento econômico: a fragilidade financeira de muitas empresas. Enquanto o PIB avança, setores como serviços e comércio continuam enfrentando dificuldades, pressionados por inadimplência, custos elevados e os efeitos tardios da pandemia. Para evitar mais falências e garantir uma recuperação mais equilibrada, será necessário um esforço conjunto entre governo, instituições financeiras e o setor privado.