in , , , ,

Quando enterramos nossa essência para atender ao mundo

Às vezes, o espelho reflete não a nossa essência, mas quem nos forçaram a sermos.

Imagem: Ilustração

Ele se olhou no espelho e não se reconheceu. O rosto ainda carregava as mesmas feições, mas algo estava profundamente diferente. Os olhos, antes brilhosos e vivos, agora estavam apagados, sem vida, como se o reflexo diante dele fosse de alguém que não conhecia mais. Como podia ter se perdido a ponto de não se identificar?

A vida, como uma força invisível, foi exigindo dele sacrifícios. Primeiro, enterrou a coragem de ser quem realmente era. Diziam que o mundo não tolerava aqueles que ousavam ser diferentes, então ele se moldou ao que esperavam dele. Com o tempo, deixou de ser o que era para se tornar o que os outros queriam que fosse. A ousadia se foi, substituída por convenções, por um comportamento mais “aceitável”.

Enterrou os sonhos também. Aqueles que o mantinham acordado até tarde, imaginando um futuro brilhante e cheio de possibilidades, foram apagados pelo peso das responsabilidades, das cobranças, da pressão para se ajustar ao que era esperado. A arte de sonhar foi substituída pela frieza das exigências diárias. Não era mais o que desejava, mas o que o mundo o forçava a ser.

Pouco a pouco, foi enterrando seu verdadeiro eu: o espírito aventureiro, a alegria de viver sem amarras, o desejo de liberdade. Tudo foi sendo soterrado sob a terra das expectativas alheias. E, com o tempo, esqueceu como era ser ele mesmo. Esqueceu a leveza de ser simples, de se arriscar, de se expressar com o coração aberto.

Ele estava ali, de pé, mas já não vivia de verdade. Seus dias eram uma sucessão de movimentos mecânicos e gestos automáticos. Vivia para agradar, para satisfazer as exigências do mundo, mas nunca para si mesmo. O espelho lhe devolvia a imagem de um homem que já não existia, alguém que havia desaparecido na tentativa de se encaixar.

Foi então que, diante daquele espelho, algo se acendeu dentro dele. Uma faísca. Uma lembrança distante de quem realmente era. Percebeu, de forma dolorosa, que havia enterrado sua essência, mas que ela ainda estava lá, esperando ser desenterrada. Não era tarde demais para se reencontrar. Não importava o quanto tivesse se perdido no caminho—ele sabia que poderia se recuperar, ainda que fosse difícil e demorado.

Respirou fundo. A decisão estava tomada: não viveria mais para as expectativas dos outros. Não se moldaria ao que o mundo queria que fosse. Ele faria as pazes com sua essência, resgataria os sonhos e a coragem que haviam sido enterrados. Com cada passo, desenterraria um pouco mais de si, até que, finalmente, pudesse se olhar no espelho e reconhecer o homem que sempre foi, mas que havia deixado para trás.


Crônicas da Vida RealUm espaço para reflexões sobre situações que, reais ou fictícias, podem ser vividas por qualquer um de nós. Gostou dessa história? Compartilhe com a hashtag #CronicasDaVidaReal e marque quem precisa ler!

Avatar photo

Postado por Eryx Moraes

Eryx Moraes é um jornalista potiguar de destaque, nascido em 25 de março de 1985 em Felipe Guerra, RN. Com uma carreira brilhante e apaixonado pela comunicação, ele se tornou influente na região, conquistando o respeito dos mossoroenses e sendo agraciado com a cidadania mossoroense. Sua experiência inclui passagens por rádios e jornais impressos, abordando com competência temas diversos, desde política e economia até outros assuntos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Hotel de luxo no espaço: Conheça o ambicioso projeto Voyager Station, com inauguração prevista para 2027

Lula mente sobre ‘queda de 30%’ no preço da carne em 2023