A guerra na Ucrânia ceifa centenas de vidas, inclusive crianças, idosos e doentes. O papa Francisco lamentou os “rios de sangue e lágrimas”, que correm. Espanta o mundo, a forma truculenta como Putin reprime o próprio povo russo. Em Moscou, cinco crianças (7 a 11 anos) foram presas. Elas levavam flores e cartazes com a frase “Não à guerra”.
O governo aplica nova lei de censura e repressão, que pune em até 15 anos de prisão quem participar de atos públicos não autorizados, ou usar apalavras censuradas pelo Kremlin. Os presos não recebem comida, nem água e ficam sem os telefones celulares. As autoridades russas negam o direito à defesa dos detidos, impedindo acesso a advogados.
São dois os personagens centrais dessa guerra: Volodymyr Zelensky e o presidente russo Vladimir Putin. O presidente ucraniano Zelensky, 44, nascido em em 1978, na URSS, advogado e humorista, é hoje chamado o “George Washington da Ucrânia”. Não tinha experiência política quando eleito presidente da Ucrânia, com 73% dos votos. Agora, transformou-se em herói nacional e estadista europeu. É colocado no mesmo patamar de Churchill, ou Roosevelt.
No último dia 24 de fevereiro, Zelensky em discurso sóbrio, disse que ligou para o presidente Putin a fim de evitar a guerra. O russo não atendeu. A partir daí, no estilo de “Davi contra Golias”, declarou com coragem, que se o seu país fosse atacado, a Rússia veria os rostos dos ucranianos e não as costas. A declaração enfureceu o presidente russo.
Em seguida, Putin ordenou a invasão. O governante soviético não aceita a Ucrânia como Estado soberano, embora a própria Rússia (sob Boris Yeltsin) tenha reconhecido a independência do país. Diante das acusações do Krelim da necessidade de “desnazificar” a Ucrânia, Zelensky respondeu, com postura de estadista, que mais de 5 milhões de ucranianos morreram combatendo os nazistas na II Guerra.
Vladimir Putin, 70, judeu, nascido em 1952, em São Petersburgo. O seu avô trabalhou como cozinheiro de Lenin e Stalin. Seu pai serviu no exércio soviético. O bisavô morreu no holocausto. Putin foi agente da polícia secreta- KGB. Sempre carrancudo, ambicionou o poder. Já Zelensky fazia os outros rirem. Os fatos atuais mostram o comediante mais heroico, do que o covarde agente da KGB.
Muito pouco se sabe sobre a vida pessoal do autocrata russo. Foi casado com Lyudmila Shkrebneva, comissária de avião, entre 1983 e 2013. Tem duas filhas. A exemplo de Clinton com Monica Lewinsky, comenta-se que, em 2008 uma fotografia mostra o presidente russo sorridente ao cumprimentar a ex-ginasta rítmica russa, Alina Kabaeva, nos Jogos Olímpicos de verão. A partir daí começara relacionamento amoroso, do qual resultou uma filha em 2012, outra criança em 2015 e gêmeos em 2019. Alina Kabaeva resolveu entrar na política como parlamentar pró-Kremlin. Trinta anos mais nova do que Putin, foi apontada como a causa do fim do matrimónio com Lyudmila Shkrebneva.
Mais uma filha ilegítima é atribuída a Putin: Elizaveta, nascida em 2003, do relacionamento extraconjugal com Svetlana Krivonogikh, empregada doméstica, que se tornou dona de fortuna estimada em US$ 100 milhões. É sócia de “amigos” do presidente Putin. Tem participação no banco Rossiya, conhecido como o banco de Putin, por ser controlado por oligarcas próximos a ele. Svetlana apareceu nos chamados “Pandora Papers”, investigação sobre negócios ocultos de personalidades
Putin tem poucos amigos. O núcleo de sua equipe é formado por cinco pessoas. Todas serviram com ele na KGB, de origem militar. Serviços de inteligência afirmam que o presidente Zelensky é o primeiro na lista de Putin para ser assassinado. Mais de 400 mercenários russos e africanos estariam na Ucrânia, com essa missão. Os mercenários são do “Grupo Wagner”, organização paramilitar privada, dirigida pelo oligarca Yevgeny Prigozhin, “um dos aliados mais próximos” do presidente.
Putin corre o risco do “assassinato político”, com a perda do poder na própria Rússia, que está em processo de estrangulamento financeiro e econômico. Ganhando ou perdendo a guerra, o Kremlin terá derrota geoestratégica. O mundo não aceita o autoritarismo, as armas, a força militar como divisor de águas entre as nações. O conflito na Ucrânia despertou para a realidade de como ancorar e proteger melhor as democracias. Realmente, desafio a ser vencido, por quem confie na liberdade humana.
Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado