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SOBRE A DISPUTA PELA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Foto: Reprodução

Hoje eu quero comentar um pouco sobre a disputa presidencial. Estamos diante do diálogo dos surdos. Ninguém está disposto a ouvir o outro. Argumentos, ponderações, análises, fatos, nada disso importa nesse diálogo, porque cada um é dono da sua própria verdade e não está disposto a ceder um milímetro, seja qual for a força do argumento contrário. Por conta disso, invariavelmente quando o tema vem à tona nos mais diversos grupos, inclusive os mais íntimos e mais próximos, invariavelmente termina em confronto e ânimos exaltados. E olhe que a campanha nem começou. A previsão é que essa conflagração se acentue ainda mais.

LULA OU BOLSONARO IRÁ PRESIDIR O BRASIL DE 2023 A 2026

Segundo as pesquisas, quase 80% dos eleitores estão divididos entre Lula e Bolsonaro e isso se deve a chamada polarização entre duas correntes de opiniões e ideais que estão opostos entre si. Com esse índice de eleitores decididos entre um e outro, não acredito na possibilidade da terceira via, alguém que surgiria e cairia nas graças dos que não são Lula e nem são Bolsonaro. E que avançaria na disputa atraindo parte dos eleitores dos dois lados que desejam uma opção mais ao centro. Isso é ilusão. Primeiro, porque os partidos da terceira via não vão se unir, cada qual tem seu projeto e não abre mão. No máximo um ou dois consigam convergir nessa ideia. Segundo, porque não será no automático que o eleitor vai escolher a terceira via, são necessários muitos fatores para conquistar o voto.

A CORRUPÇÃO VAI SER COLADA NO PT

Sobre a candidatura de Lula, penso que o tema da corrupção vai render muitas dificuldades ao PT, principalmente na fase da campanha, quando o tiroteio vier de todas as direções e a propaganda eleitoral expor vídeos, reportagens, fatos que ficaram marcados nas gestões petistas. Não será apenas com o contraditório de que Lula não está condenado em nenhum processo ou que Lula está legalmente na condição de inocente, que o PT conseguirá abafar as chamas deste incêndio. É inegável que na gestão petista, uma série de investigações mostraram a corrupção no governo, tanto do PT como dos partidos aliados. Isso está claro, com menor ou maior envolvimento de cada personagem citado nos escândalos.

UMA BREVE ANÁLISE SOBRE CORRUPÇÃO SISTÊMICA

Também é fato que o a corrupção no Brasil é sistêmica. Ignorar que os esquemas organizados para roubar o dinheiro público existiam e existem é apenas jogar para a torcida. É de uma infantilidade sem tamanho, por exemplo, os bolsonaristas acreditarem que no atual governo não há corrupção. Ou que toda a turma do Centrão, que fez a festa em todos os governos anteriores, agora com a chave do orçamento na mão, esteja convertido em santidade, que esteja agora transformados em anjos de bondade. Ainda mais porque neste governo não se investiga mais, tudo está sob o manto de sigilos decretados por 100 anos, por uma polícia federal sob controle ou uma PGR amigável.

CADA UM TEM SEU BANDIDO DE ESTIMAÇÃO

Penso que tanto os petistas têm a plena consciência de que houve corrupção no governo do PT, quanto os bolsonaristas sabem que há corrupção no atual governo. A questão é não admitir para não dar munição ao inimigo. Então tudo se resume a cada lado ter seu bandido de estimação.  A ilegalidade praticada por quem eu simpatizo eu aceito, justifico e perdoo, mas a ilegalidade do meu adversário eu condeno e esbravejo contra ela. Isso é que alimenta os dois lados. Por isso toda a discussão política nacional está centrada em questões menores, pontuais, de valores, porque se trata de uma discussão intestinal, não racional.

BOLSONARO QUER UM DEBATE SOBRE COSTUMES E NÃO SOBRE PAÍS

Sobre o presidente Bolsonaro, vejo que há um esforço em gerar um debate nacional em torno das questões dos valores, da família, da moral, da decência, etc. Ninguém nunca viu Bolsonaro propondo uma discussão sobre o futuro da nossa economia, meio ambiente, política externa, as políticas públicas na educação e na saúde. Tudo se resume a temas sobre sexualidade, aborto, voto impresso, as quatro linhas da constituição, etc. Bolsonaro tem uma militância muito ativa que se abastece justamente destas polêmicas menores, incapaz de se posicionar sobre os grandes temas.

A DISCUSSÃO VERDADEIRA

Infelizmente, não estamos tendo neste processo atual uma discussão mais aprofundada sobre o que realmente interessa para o País e para o futuro dos brasileiros. Vamos ter milhões de eleitores indo as urnas e fazendo suas escolhas por motivações as mais diversas que passam longe da capacidade e do conhecimento dos candidatos sobre os problemas do País e os caminhos para superá-los.

O DEBATE SOBRE O AUMENTO DA POBREZA NO BRASIL

O que de fato me preocupa é que vivemos num Brasil em que milhões de famílias estão descendo rapidamente na escala social. Da classe média para a pobreza e da pobreza para a miséria. Um país onde se faz fila para comprar osso. Um salário mínimo que está perdendo poder de compra e faz com que os mais pobres tenham a cada mês que reduzir sua feira, ou seja, comer menos. Uma fila de desempregados e de subempregados que desagua na falta de comida na mesa, na falta do que vestir e sem acesso a saúde ou a educação com um mínimo de qualidade. Esse é o debate que devíamos estar tendo.

CRISTÃOS DISCUTINDO COR DA BANDEIRA E OLHANDO DE LADO PARA A FILA DO OSSO

Fico me perguntando sobre esses milhões de pessoas que se dizem cristãos, focados num debate sobre quem é gay ou não, e fechando os olhos para os milhões mergulhados na linha da miséria, sem ter o que comer. Será que eles esqueceram que Jesus fez uma opção claramente preferencial pelos pobres? Pessoas que ficam indiferentes a fila do osso, mas que ficam indignadas com essa bobagem da bandeira ser vermelha. Pessoas comprando brigas sob o argumento do Brasil virar Venezuela, quando sequer tem informações precisas sobre uma coisa ou outra e que não estão nem aí quando se noticia mais uma morte por Covid.

MEU VOTO É PELA INCLUSÃO SOCIAL E MELHOR DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA

Por isso, para fazer minha escolha presidencial, entram na balança temas como corrupção, histórico político, bandeiras partidárias, conhecimento e capacidade, mas, não é apenas isso, até porque nesta balança aí parece que quase todos os candidatos tem os mesmos prós e contras. Na minha balança, o peso principal está sob a bandeira da inclusão social, da assistência aos mais pobres, da oferta de unidades de saúde com qualidade, que a escola do pobre possa ser tão boa quanto a do rico, pois é pela educação que um pobre tem chance de mudar de vida. O peso de uma economia que permita oportunidades de trabalho, geração de renda e melhor distribuição da riqueza. Porque o Governo deve ter como alvo os mais pobres, os que precisam que o Estado lhes dê o mínimo, pois não tem como pagar por isso. Lamento pela discussão menor, desejaria que estivéssemos noutro patamar.  

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Written by Neto Queiroz

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