O dia 12 de agosto não consta no calendário eleitoral como sendo uma data importante nos prazos de atos voltados para as eleições. Porém, nesse dia teremos uma espécie de dia D para as eleições nesse País. É que nesta data, o Ministério da Defesa promete divulgar o relatório sobre as urnas eletrônicas, elaborado pela equipe técnica do Ministério indicada para realizar a inspeção sobre os códigos fonte das urnas. Nessa data, então, o ministro Paulo Sérgio Nogueira dirá se as Forças Armadas consideram as urnas confiáveis ou se o sistema eleitoral brasileiro corre risco de fraude.
QUEM TEM A ÚLTIMA PALAVRA
O primeiro fato que chama a atenção na notícia acima é que as Forças Armadas parecem terem evocado para si uma espécie de palavra final sobre as eleições. Serão os militares que detém a decisão se podemos ou não realizar eleições livres este ano. Caso o parecer seja pela eficácia das urnas, então segue tudo como antes e teremos eleição. Caso haja um parecer apontando qualquer irregularidade ou vulnerabilidade nas urnas, então, podemos ter criado um labirinto onde se acentua a discussão se teremos ou não as eleições. A partir de uma conclusão contrária às urnas, está criado um cenário cujo desfecho é incerto.
RELATÓRIO DEVE SER EXPLOSIVO
O fato concreto é que dificilmente teremos um relatório a favor das urnas. A insistência do Ministério da Defesa em inspecionar as urnas não tem previsão constitucional, não é tarefa das Forças Armadas. Serve apenas ao propósito do ministro de atender uma birra do presidente da República que tenta a todo custo criar um ambiente conturbado em torno das eleições e, quem sabe, impedir que elas se realizem. Então, se o propósito é esse, não faz sentido esperar que o fruto dessa “invencionice” seja um relatório que funcione como um “nada consta” a favor das urnas. O que se pode esperar após 12 de agosto, com um relatório militar contrário às urnas, será um ambiente de conflito cada vez mais acentuado. E, olhe lá, se não for motivo para um golpe eleitoral.
EXISTEM PESQUISA E PESQUISAS
Precisamos sempre ter muito cuidado com as análises sobre as pesquisas que estão sendo divulgadas no Rio Grande do Norte. Eu confio nas pesquisas, sei que são mecanismos adequados para medir num determinado momento, as tendências eleitorais, com alta probabilidade de conterem informações corretas, porém, sei que podem existir propósitos que podem levar a desvirtuação das pesquisas. A disposição de perguntas num questionário, a orientação indevida aos pesquisadores, um manuseio errado das tabulação, podem ser caminhos para desvirtuar os rumos de uma pesquisa. Não quer dizer que aconteçam sempre, mas é possível de ocorrer.
OLHAR ALÉM DOS NÚMEROS E GRÁFICOS
Por isso que numa pesquisa, precisamos sempre olhar os números para ver se não são conflitantes entre si, olhar a estratificação feita nos segmentos da sociedade se correspondem aos dados oficiais do IBGE, analisar as linhas e tendências de pesquisas de um mesmo instituto em períodos diferentes e observar a forma como os questionários foram elaborados e aplicados. Tudo isso serve para que a análise dos números seja feita de forma correta, fruto de uma pesquisa bem feita. Esse olhar mais criterioso serve para identificar pesquisas cujos resultados parecem estranhos, fora da curva, em confronto com os resultados da média das outras pesquisas que estão sendo realizadas por outros institutos.
CASOS ESTRANHOS QUE VI
Sem pretender citar nomes ou acusar ninguém, mas apenas levantando questionamentos sobre resultados divulgados, vi nos últimos dias algumas pesquisas que me deixaram em dúvida. Um exemplo disso foram duas pesquisas realizadas quase no mesmo período em que um candidato a senador tinha 15 pontos num instituto e tinha 6 pontos em outro. Uma diferença de 150%. Vi também outra pesquisa em que os números da espontânea eram muito próximos ou exatamente iguais em relação aos números da estimulada. Nos demais institutos essa diferença chegava a ser de mais de 50%. Enfim, são exemplos apenas que nos alertam para verificar com cuidado os números, analisar contextos e dados gerais para ter certeza que se trata de pesquisa bem feita.
STYVENSON E O MARKETING DA NÃO POLÍTICA
Foi encerrado ontem o prazo para a realização das convenções partidárias. O último a realizar convenção no RN foi o Podemos, do senador Styvenson Valentim. E deu o resultado esperado. Ele é candidato ao Governo. Styvenson montou uma peça de marketing em torno de sua decisão, criando uma expectativa sobre sua candidatura e aproveitando a audiência da espera para vender seu perfil antipolítica. Pelo modo como tratou toda essa fase de pré-campanha, Styvenson deixou claros sinais que pretende fazer uma campanha repetindo todo o modelo de 2018, quando desprezou as vias tradicionais e montou uma estratégia de candidato da “não política”.
PENSO QUE O ELEITOR VAI EXIGIR MAIS
Tenho minhas dúvidas se esse modelo vai colar novamente. Não se trata mais de apenas Styvenson dizer ao eleitor que detesta política, não gosta de partidos, não gosta de políticos e vai fazer campanha sem propaganda e sem fundo partidário. Trata-se mais de Styvenson mostrar ao eleitor o que conseguiu fazer, nesses quatro anos, em prol do Estado com um mandato que o povo lhe conferiu. Não adianta apenas dizer que é diferente, o senador precisa dizer se foi eficiente. É isso que o eleitor vai julgar.