Embora os jogadores ainda estejam acanhados, o jogo de articulações políticas com vistas às eleições municipais do próximo ano em Campo Grande-RN – que inclusive já se chamou Augusto Severo em homenagem ao extraordinário brasileiro pioneiro no desenvolvimento aeronáutico, mas a homenagem acabou sendo desfeita em 06 de dezembro de 1991, através do Decreto Municipal n.º 155, outra história que tem tudo a ver com a política do município, mas que não é o nosso assunto de hoje -, tem novos capítulos, os quais indicam cada vez mais uma disputa emocionante por lá no próximo ano, com todos os elementos típicos da política interiorana brasileira, em especial aqui no Nordeste.
Em Campo Grande, o elemento que baliza as discussões sobre política partidária e eleições ao longo dos últimos anos, é o acirramento entre o atual prefeito Francisco das Chagas Eufrásio Vieira de Melo, o ‘Bibi de Nenca’ (MDB) – no seu terceiro mandato e prestes a completar 65 anos (24/07) – e o ex-prefeito Manoel Fernandes de Góis Veras, o ‘Manoel Veras’ (PSB) – um mandato, 61 anos (12/09/1961).
Os últimos acontecimentos políticos por lá são os seguintes: tem nome novo no tabuleiro – de longa trajetória de vida pública e de grande legado por lá -. Trata-se do ex-vereador Jean Vieira (PSC), campeão de votos em outrora, o qual voltou à cena política local e tem pautado os acalorados debates nas rodas de conversa. Indicando pretensões, Jean Vieira passou a ser visto como possível nome para encabeçar ou compor como vice uma chapa de oposição, inclusive interlocutores próximos de Jean dão conta de que ele só aceitaria discutir uma eventual chapa que tenha ele como o nome a prefeito. Em eleição passada, Jean Vieira compôs como candidato a vice-prefeito uma chapa de situação encabeçada pelo atual vice-prefeito do município, Grimaldo Gondim (MDB), com o apoio de Bibi de Nenca, que inclusive era o prefeito do município à época, mas ambos acabaram derrotados pelo hoje ex-prefeito Manoel Veras, que tomou o poder e perdeu na eleição seguinte, ao tentar a reeleição, resultando na volta de Bibi ao comando do município.
Inconformado, Jean creditou a amarga derrota na conta de Bibi, por tê-lo preterido e optado por apoiar Grimaldo para sua sucessão, deixando-lhe como consolo a vaga de vice na chapa fadada à derrota. Posteriormente, houve o rompimento definitivo entre Jean Vieira e Bibi de Nenca, que, mostrando resiliência, liderou o grupo despojado do poder por quatro anos e, por meio de uma exitosa articulação, recuperou a prefeitura na última eleição municipal passada, agora tendo Grimaldo como seu vice-prefeito.
Tais episódios e desdobramentos se deram no período que compreende as três últimas eleições municipais em Campo Grande-RN, ou seja, de 2012 a 2020. Jean Vieira levou um longo período para superar o trauma após ter visto, na sua ótica política, Bibi de Nenca lhe negar a oportunidade de conduzir os rumos do município, e ainda lhe impondo a derrota que interrompeu a trajetória exitosa de Jean Vieira na política campograndense. Conhecedores da cena política local dizem até que, por desconfiança em relação à lealdade de Jean, bem como em relação ao seu futuro político com uma eventual gestão de Jean, o perspicaz Bibi de Nenca – hoje veterano e mais apegado do que antes ao poder – preferiu perder o comando do município para o seu adversário Manoel Veras do que impulsionar ainda mais a ascensão de Jean, hoje um potencial adversário, ainda ressentido, e que, diferente da postura passiva adotada durante o pleito eleitoral de 2020, quando a prefeitura voltou para Bibi mais cedo do que se imaginava, atualmente Jean Vieira tem gastado sola de sapato para se fazer presente em todas as aglomerações de pessoas onde o assunto é a política local. Aquele comportamento típico de alma que quer reza.
Entretanto, se Jean Vieira de fato estiver disposto a bater de frente com prefeito Bibi de Nenca no pleito que se aproxima, precisa avançar com sua articulação, sobretudo mostrando que seu nome é mais agregador e viável do que o do ex-prefeito Manoel Veras para um novo embate entre os blocos políticos rivais, mas fazer tal convencimento de forma que convença o próprio Manoel Veras a apoiá-lo. Do contrário, é importante lembrar que o revanchismo puro e simples de uma determinada liderança política não é suficiente para vencer uma eleição contra uma estrutura governista de qualquer uma das três esferas.
De acordo com interlocutores do ex-gestor, Manoel Veras não demonstra resistência em relação ao que vem sendo defendido pela corrente amplamente majoritária da oposição, de que, para a retomada do poder, faz-se necessário muito mais do que a reedição do último embate entre Manoel Veras e Bibi de Nenca, o que agora seria em circunstâncias invertidas para ambos. Entretanto, é natural que o principal líder da oposição campograndense mantenha demarcado o seu espaço no tabuleiro político até que se chegue a um consenso, seja em torno do nome dele, de alguém com o seu sangue e confiança, ou pelo menos de alguém em quem Veras possa não apenas confiar, mas acreditar em sua viabilidade de êxito para o embate com Bibi.
Nesse contexto, é importante pontuar que a liderança do ex-vereador Jean Vieira junto ao eleitorado de oposição ainda não está consolidada, haja vista que Jean é remanescente do grupo político que ora comanda o município. Daí que opositores mais simpáticos em relação à ideia de Jean ser o candidato a prefeito da oposição apontam possíveis medidas e caminhos no intuito de ajudar na viabilização do seu nome junto ao grupo, enquanto outros mais resistentes à ideia colocam para Jean desafios como, por exemplo, “pescar” o vereador de situação Deginaldo Oliveira (PSC) no palanque do prefeito Bibi de Nenca para uma maior soma na oposição.
Quanto a esse desafio, conhecedores do histórico da relação de Deginaldo com Jean acreditam seriamente nessa possibilidade, inclusive defendendo pelo menos três fatores importantes: 1° – Jean já teria dado apoio decisivo a Deginaldo no passado; 2° – o vereador situacionista estaria bastante insatisfeito com o prefeito Bibi; 3º – Uma negativa de Deginaldo a Jean poderia custar a reeleição do vereador, uma vez que a sua base eleitoral de fato seria liderada por Jean.
Nos bastidores da política de Campo Grande atualmente, a “sinuca de bico” do vereador Deginaldo sai da pauta quando entra em discussão a situação do atual presidente da Câmara do município, o vereador Vittor Melo (MDB), o qual certamente ainda não sabe no que vai resultar sua ousadia de peitar o prefeito Bibi, colocando-se nas entrelinhas como possível pré-candidato a prefeito para o pleito do próximo ano no município, como quem ignora o direito e o desejo do gestor de disputar a reeleição – o que para Bibi já seria o quarto mandato de prefeito.
Fontes dão conta de que, diante da nova postura adotada por Vittor Melo, o chefe do Executivo estaria dispensando ao seu ainda “aliado”, porém ora rebelado, um tratamento que já é chamado de “isolamento” por muitos dos que acompanham de perto a cena política local.
Sendo esta a realidade da relação entre os atuais chefes dos Poderes políticos de Campo Grande-RN, certamente é tempo do jovem vereador Vittor Melo fazer aquela profunda reflexão sobre sua promissora carreira política. É preciso saber o quanto já avançou, se ainda é politicamente seguro voltar ao barco, ou se a corda já rompeu por completo. E sendo correta a terceira hipótese, tal situação me faz recordar parte de uma história chata que uma tia minha contava quando eu era criança e minha mãe me deixava na casa dela para ir ao trabalho. Só lembro bem que falava sobre um passarinho verde que era preso numa gaiola há muito tempo, e um dia, por descuido, seu dono acabou deixando a porta da gaiola entreaberta, até que algumas pessoas perceberam aquela situação e, desejosas de que aquele passarinho voasse alto e conquistasse sua liberdade, abriram totalmente a porta e passaram a incentivar que o passarinho saísse daquela apertada gaiola que o aprisionava.
“Vai passarinho, voa!”, alguém dizia.
“Voa logo passarinho verde, essa é tua chance!”, outro insistia.
“Ué passarinho, tu não aprendeu a voar?”, questionava um terceiro, quando um quarto alguém gritou: “Olha o gato!”, mas infelizmente já era tarde demais. Não vou contar o fim dessa história porque é triste e eu não gosto.
E voltando à política de Campo Grande-RN, recentemente algumas lideranças da oposição na cidade se reuniram com o deputado estadual George Soares, na ALRN, algo que indica possíveis entendimentos na articulação do grupo opositor com vistas ao pleito eleitoral do próximo ano. Em uma das imagens (foto principal acima) que circulam registrando a reunião, posam ao lado do parlamentar estadual o ex-prefeito Manoel Veras, como já dito, principal liderança do grupo, o ex-vereador e pretenso prefeitável Jean Vieira, o atual vereador Jorge Caiana, também ex-correligionário do prefeito Bibi de Nenca e agora de oposição, o vereador ‘Filipinho Pimenta‘, o pré-candidato a vereador Osvaldo Vieira, a ex-vereadora ‘Branquinha de Nelson‘ e o ex-vereador João Pisco, estes últimos também importantes lideranças da oposição ao prefeito Bibi de Nenca.
Seguimos acompanhando e tomando nota dos próximos capítulos.