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Mossoró Cidade Junina 25 anos e o futuro

Foto: Reprodução/Arquivo

Após 3 anos sendo realizado no formato virtual, o maior evento popular do Rio Grande do Norte e um dos maiores eventos do gênero realizados no país, o Mossoró Cidade Junina, está de volta e melhor, de forma presencial. Com grandes expectativas, o MCJ foi anunciado pela prefeitura e lançado oficialmente no último dia 12 de abril em grande evento no Hotel Thermas.

Para alguns é o retorno da sobrevivência, já que dependem dos eventos da cidade para manter-se em atividade. Para outros é a retomada de um dos maiores calendários de eventos do Brasil, que exerce importante papel na economia local e regional. Em 2019, o MCJ movimentou R$ 90 mi na economia mossoroense. O mês de Junho já se constitui como a maior data do comercio mossoroense.

Com uma programação recheada e com a manutenção de projetos como o espetáculo Chuva de Bala, o Pingo da Mei Dia e o Boca da Noite, a cidade se prepara para mostrar sua vocação para realizar grandes eventos.

Em razão do advento da pandemia do Covid-19, deixou-se de realizar não só o Mossoró Cidade Junina, mas os tantos eventos do seu movimentado e diversificado calendário cultural, trazendo sérios prejuízos para a atividade do Turismo, e, por consequência, para a economia da cidade.

O trade turístico, principal interessado, comemora. O turismo em sua essência é uma atividade privada e, portanto, o mais beneficiado com a realização de grandes projetos como o MCJ. Apesar da alegria pela volta das festividades juninas, o setor continua a sentir-se prejudicado por algo que nunca mudou em 25 anos de realização do MCJ. Apesar de todos os esforços do executivo ao longo dos anos, ainda hoje o trade não consegue se apropriar do projeto como deveria e como ocorre nas principais referências: Campina Grande/PB e Caruaru/PE.

Nestas cidades, igualmente as prefeituras se constituem como realizadoras do projeto, mas o setor privado e as entidades representativas tem atuação decisiva no fortalecimento do evento, auxiliando o executivo na condução das festividades, contribuindo na atração de investimentos e na promoção e divulgação, que culmina com a vinda de visitantes de todo o Brasil e do exterior.

A impossibilidade de atrair maiores investimentos (patrocínios), por exemplo, e o fato do Corredor Cultural se encontrar em reforma, são situações adversas ao projeto. Ainda é incerto a realização do Pingo da Mei Dia na avenida Rio Branco, apesar de ter sido confirmado pelo chefe do executivo no dia do lançamento, que seria lá realizado. Inimaginável vê-lo em outro ambiente como a Avenida Presidente Dutra, como está sendo suscitado nas redes sociais, certamente levaria ao dobro do já fantástico público, mas descaracterizaria por completo o mesmo, porque não se trata de apenas número de público, mas de tradições.

Apesar disso, é grande a expectativa de público para o São João, que deve superar anos anteriores. Os 25 anos do Mossoró Cidade Junina deve ser encarado como um momento de ruptura, para que, como ocorre nas cidades paraibana e pernambucana, seja planejado já no mês de julho de 2022 o MCJ de 2023, com a reunião entre a Prefeitura, com todos os elementos que constituíram a grande festa, com a participação do setor privado representados pelas entidades e pelo trade turístico.

O tempo para captação de patrocínios e o formato de atrair investidores devem ser revistos, pois é pouco provável que grandes empresas invistam faltando pouco mais de 50 dias para sua realização, vez que este planejamento, em geral coordenado pelo setor de marketing, devem ser definidos no ano anterior à sua realização, entre setembro e novembro.

Ao setor privado, a quem interessa o planejamento e a realização do evento, composto por hotéis, pousadas, restaurantes, agências e operadoras de viagem, por exemplo, necessitam igualmente deter informações do projeto para que possam vender pacotes de hospedagens e tudo mais que envolve a vinda de visitantes. É assim que Campina Grande e Caruaru atuam, pelo menos nos últimos 20 anos. Nada de extraordinário e excepcional, trata-se apenas de planejamento. Nestas cidades isto ocorreu, mesmo com a pandemia em curso, pois já estão talhados nisto.

A Prefeitura de Mossoró pode e deve mudar este cenário, trazendo demais setores para o projeto, e enxergar neles como parceiros que não tem a pretensão de atrair para si holofotes, mas apenas e tão somente exercer o papel que lhes cabe, que é de trabalhar na divulgação do evento e na consequente atração de turistas, fazendo a cadeia produtiva se movimentar com o objetivo final de aquecer ainda mais a economia local e regional.

Quanto a atração de investimentos, parte imprescindível e fundamental deste processo, é o que vai qualificar ainda mais nossa infraestrutura, e que possibilitará maiores investimentos na atração de grandes nomes da música nacional. Não que a prefeitura deixará de investir com recursos dos cofres públicos, apesar de tudo que sabemos de Campina Grande e Caruaru, as gestões publicas das duas cidades continuam investindo (e não é pouco), principalmente na promoção e divulgação do evento, o retorno é comprovado a cada edição, sem reclamações.

Por fim, falando do item “atrações musicais” há ainda críticas e descontentamento das pessoas mais tradicionais e conservadoras, quando nomes anunciados que não estão necessariamente vinculados ao ritmo do forró. Quanto a isto, acredito tenha como opinar por ter durante uma década (2004 a 2014) atuando na captação de patrocínios para o MCJ, por conhecer bem o São de Caruaru e por ser de Campina Grande, tendo vivenciado por muitos anos a grande festa paraibana.

Quem pensa que é apenas em Mossoró que nomes de cantores de renome nacional são convidados e até se constituem como as grandes atrações, se equivoca. É assim também em Campina Grande e em Caruaru. E isto está ligado ao fato de grandes investidores detentores de grandes marcas nacionais estarem apostando seus recursos financeiros, pois enxergam isto como um grande negócio e, portanto, querem visibilidade para suas marcas, produtos e serviços, e isto é melhor realçado com atrações nacionais, é simples.

Em 2014, salvo o engano, a prefeitura de Caruaru, a Capital do Forro, determinou que artistas locais e até mesmo os artistas nacionais teriam que tocar apenas o ritmo do forró, justo, mas então, a retirada de investimentos pelo setor privado, fez o evento retornar no ano seguinte com o sistema hibrido: artistas locais e nacionais.

Em Campina Grande, em 2017, ocorreram críticas pela grande quantidade do chamado sertanejo universitário e da sofrência, apesar disso, até hoje, ritmos como este e outros estão presentes no que eles e consideram o maior São João do Mundo.

A questão ao meu ver é:  não são os grandes nomes que atraem pessoas do Centro Oeste, do sul, ou do sudeste do pais, para as festividades juninas, pelo menos não deveria, já que tais artistas tocam suas músicas mais lá do que aqui, e sim os aspectos culturais. É o nosso espetáculo Chuva de Bala, são as quadrilhas juninas, é o pau de Arara, é a cidade cenográfica da Cidadela, são as comidas típicas, os repentistas, o artesanato que devem motivar a vinda de turistas. Neste sentido, seguindo a linha do superlativo, considero ótimo a ideia de tornar o MCJ o São João mais Cultural do Mundo, como está lá na campanha de marketing.

É com esta premissa que devemos trabalhar, todos, a prefeitura, as entidades e o setor privado, só unidos podemos, não superar Campina e Caruaru, não se trata disso, pois quem conhece os três eventos como conheço, são três grandes festas populares incríveis, cada uma com suas características, mas de se posicionar como grande evento também, capaz de concorrer na atração de público. Poucos sabem, mas em termos de tamanho do espaço físico, com a festa sendo realizada no Corredor cultural, Mossoró já supera em tamanho o Parque do povo em Campina grande e o Pátio do Forró em Caruaru, mas isto é tema para outra coluna, pois acredito que muitos duvidam, tantos os de lá, como os de cá.

O importante nisto tudo é que é inegável o papel das festividades juninas em nossas vidas, seja pelo aspecto cultural ou econômico, ambas devem andar juntas. Vamos agradecer neste momento, mais que criticar, pois a volta do São João significa vida e dias melhores. Viva o Mossoró Cidade Junina, o São João Mais Cultural do Mundo.

Turismo é desenvolvimento.

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Written by Oberi Penha

Oberi Penha é um Consultor de Turismo e Eventos, com reconhecimento do MTur/EMBRATUR e da Organização Mundial do Turismo (OMT).

Ele exerce o cargo de Secretário Executivo do Mossoró Convention & Visitors Bureau, entidade representativa do trade turístico de Mossoró e região.

Como Administrador da agência de Turismo receptivo Continente Costa Branca, tem forte atuação no desenvolvimento do Turismo de Mossoró e da região da Costa Branca. Na área de eventos, desde 2003, coordena a realização da Feira Industrial e Comercial da Região Oeste (FICRO), uma das maiores feiras de negócios do RN.

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